DANOS AFETIVOS EM PANDEMIA

Demétrio Sena - Magé

Realmente não sei como faremos isso, mas precisamos achar um jeito de não transformarmos o isolamento social pela pandemia no mais absoluto isolamento afetivo metade medo, metade preconceito. Algumas vezes, com aquela dose do antissocialismo que já nos habitava e do projeto oculto de nos afastarmos em definitivo das pessoas de quem sempre "tivemos que gostar"; o que neste caso, e só neste caso, até se justifica.

Pessoas ainda são pessoas; elas não se tornaram depósitos absolutos do vírus presente, nem dos que virão, além dos que sempre nos infectaram. Há que se ter consciência, bom senso e cuidado, sem perder a ternura. Ou logo decidiremos nunca mais nos contaminarmos com amizades; amores... manifestações próximas e presenciais de sentimentos inusitados... reuniões familiares... toda forma de calor humano.

Há, inclusive, o risco de nos tornarmos capazes de fazer meia volta, nas ruas, quando virmos um conhecido cabisbaixo, sentindo alguma dor. Ou de sabermos que um ente querido agoniza em sua casa e ficarmos com a consciência tranquila de que não iremos lá socorrer, "porque não podemos mesmo", embora seja possível reivindicar permissão especial ou cometer uma desobediência civil, pelo mais contundente amor.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 21/05/2020
Código do texto: T6954002
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.