DANOS AFETIVOS EM PANDEMIA
Demétrio Sena - Magé
Realmente não sei como faremos isso, mas precisamos achar um jeito de não transformarmos o isolamento social pela pandemia no mais absoluto isolamento afetivo metade medo, metade preconceito. Algumas vezes, com aquela dose do antissocialismo que já nos habitava e do projeto oculto de nos afastarmos em definitivo das pessoas de quem sempre "tivemos que gostar"; o que neste caso, e só neste caso, até se justifica.
Pessoas ainda são pessoas; elas não se tornaram depósitos absolutos do vírus presente, nem dos que virão, além dos que sempre nos infectaram. Há que se ter consciência, bom senso e cuidado, sem perder a ternura. Ou logo decidiremos nunca mais nos contaminarmos com amizades; amores... manifestações próximas e presenciais de sentimentos inusitados... reuniões familiares... toda forma de calor humano.
Há, inclusive, o risco de nos tornarmos capazes de fazer meia volta, nas ruas, quando virmos um conhecido cabisbaixo, sentindo alguma dor. Ou de sabermos que um ente querido agoniza em sua casa e ficarmos com a consciência tranquila de que não iremos lá socorrer, "porque não podemos mesmo", embora seja possível reivindicar permissão especial ou cometer uma desobediência civil, pelo mais contundente amor.