Notáveis
                    e suas cartas de amor


     1. O dia dos namorados aproxima-se. É tempo, pois, de se falar de amor...
     Não me lembro o ano, e muito menos o mês, o dia e a hora que escrevi minha última carta de amor.      Adorava escrevê-las e sempre à mão. Nem à minha velha Olivetti, leal companheira e fiel confidente, eu confiava meus segredos amorosos. Veio o computador, e o manuscrito saiu de moda; creio que para sempre.
     2. Nas minhas cartas de amor, fossem revelando uma indomável paixão, fossem desistindo dela, nos dois momentos, eu procurava sempre ser sincero. Nas cartas "acabando" o romance estava o maior problema: como fazer sem ferir? Não sei como, mas normalmente encontrava uma maneira de dizer adeus sem provocar lágrimas ou mágoas.
     3. Minhas missivas amorosas eram, invariavelmente, prenhas de belas citações ou de versos de poetas dos tempos de Bilac, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e de Castro Alves; vates também lidos pelas meninas quando se diziam "doidamente apaixonadas". 
     4. Uma vez, conquistei uma jovem garota, disputadíssima, enviando-lhe uma carta com estes versos do poeta Antônio de Castro Alves (1847-1871): "Ó! Diz-me, que ainda posso um dia/ De teus lábios beber o mel dos céus;/ Que eu te direi, mulher dos meus amores:/ - Amar-te ainda é melhor do que ser Deus". Um blasfemo conquistador. 
     5. Sempre acreditei na força das cartas de amor; elas convencem, documentam, guardam segredos, gravam instantes de intensa ternura entre pessoas que se amam, de verdade ou não. Como se lê no livro "Cartas de amor de homens notáveis", que agora tenho em mãos. Suas páginas trazem histórias de "romances protagonizados pelas personalidades mais influentes da história".
     6. Em belíssimas missivas; todas cheias de doces declarações de amor, deixadas por, entre outros, Mozart para Constanze, Napoleão para Josephine, Beethoven para a "Amada Imortal", Balsac para a Ewelina, Mark Twain para Olívia e Alfred Musset para Georg Sand.
     7. Vamos a alguns tópicos extraídos de algumas dessas cartas escritas por alguns desse notáveis. Honoré de Balsac(1799-1850) diz para sua Ewelina: "Como gostaria de passar meio dia ajoelhado a teu pés, com a cabeça entre teus joelhos sonhando lindos sonhos". Não vale interpretação maldosa...
     8. E chama Eva de "dias dos meus dias, luz das minhas noites..." De Paris, escreve: "Não sorrio desde que te deixei". E segue: "...sinto que só posso viver junto de ti e tua ausência é a morte..." Encerra, assim se despedindo: Um beijo, meu anjo terrestre, um beijo saboreado lentamente e, depois, boa noite".
     9. De Beethoven, o genial compositor surdo, sua Amada Imortal, mulher que ele nunca revelou o nome. Teria sido Antonie Brentano "uma mulher vienense casada com um comerciante de Frankfurt". O sagrado direito ao anonimato.
     "Oh, Deus! Vê como a natureza é bela e aceita o inevitável. O amor exige tudo e está certo, portanto ele me quer contigo e te quer comigo". Em outro momento: "Em lágrimas, anseio por ti, minha vida, meu tudo, adeus. Oh! Não deixes de me amar e jamais duvides do coração mais fiel do teu amado L". 
     10. E o poeta francês Victor Hugo (1802-1885)? Sua paixão foi sua amiga de infância Adèle Foucher, com quem teve cinco filhos. Nem por isso, com toda essa cama, foram fieis um ao outro. Ela manteve um romance com o crítico Sint-Beuve e ele com a atriz Juliette Drouet, sua "amante, secretária e companheira de viagem". 
     11. Como disse, são lindíssimas histórias de amor que as cartas guardaram, protagonizadas por notáveis como, além dos que citei, Diderot, Alfred de Musset, Robert Shumann, Oscar Wilde, Lorde Byron e Plinio, o Jovem (61 d. C.-112 d.C.) o grande amor de CalpÚrnia, apesar desse nome.
     O dia dos namorados aproxima-se... Não percamos tempo: falemos de AMOR.  
        



 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 05/06/2020
Reeditado em 05/06/2020
Código do texto: T6968731
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