Diálogos dos Antônimos

Eu fiz amizade com a estrada. É nela que converso comigo, que repasso o dia, que puxo minhas orelhas ou que fico exitosa! Canto alto, acompanhando meu som fajuto. Entôo, desentôo. Desafino... Não importa, acho graça dos meus deslizes... Hoje, de volta pra casa, como fazem as centenas de garças que regressam aos ninhos ao entardecer, indo para o leste, olhei o retrovisor. Nossa! Meus olhos grudaram num horizonte oeste maravilhosamente colorido! Um ruivo horizonte! Não me canso de descrever as maravilhas da natureza... É bonito demais para guardar só pra mim. E pensei coisas como os contrários conversando. A beleza com o feio: - O limite que nos separa é tênue... porque fica tão orgulhosa, Beleza?

- Jamais quis lhe ofender, feiura! Além de feio, não fique amargo, por favor!

A bondade com a maldade: - Bondade, porque você se sacrifica tanto? Vive tanto para os outros e tão pouco para si! Estúpida!

- Maldade, você ainda não entendeu que a felicidade é experimentada na comunidade! Experimente doar-se! Esse é o segredo!

A riqueza e a pobreza:

- Riqueza, nesses tempos de pandemia, o que lhe importa seu tesouro?

- Pobreza, pois saiba que há também nobreza em meu coração... Nem tudo é ouro!

A sensualidade e a pureza:

- Você flerta com a lubricidade, querida! - Pureza, sou apenas sensível aos sentidos que descobri existir em mim... Confesso-lhe que sinto-me mais humana.

A vitória e o fracasso:

- Você humilha-me, cega-me como a luz exagerada, vitória!

- Fracasso, aprenda com as derrotas! Sou vitoriosa porque aprendi com os insucessos de minha vida, o melhor professor que há!

Fui conversando comigo... Percebendo o bem e o mal que há em mim.

Quando cheguei à cidade, ganhei um prêmio! A lua cheia subia ao céu, magnífica, apoteótica! Pensei logo nos contrários: lua cheia e lua minguante... depois olhei pra mim e vi que sou semelhante à lua: tenho fases, uma mulher lunática! Sorri para ela, cúmplice que sou da lua!