A santa língua


     1. Com as trezenas de Santo Antônio chegando ao seu final, aproveito para dar este conselho: cuidado com a língua.
     Nos últimos tempos, no Brasil, a língua vem sendo usada, por alguns, sem a devida cautela; sem a necessária parcimônia; com desrespeito e flagrante destempero. E o que é pior: no rádio, na televisão e em palanques improvisados.
     2. Há falastrões soltos por aí, até com ares messiânicos, "gastando-a" de maneira rude e irresponsável.
     Proclamam-se escravos da sacrosanta Bíblia, põem Deus acima de tudo, mas, no momento seguinte, se esquecem do apóstoloTiago que, na sua Epístola (Tg, 3-6) afirma ter a língua malédica um devastador poder de fogo. 
     3. Mas quero, aqui, falar, embora "an passant", de uma língua especial. De uma santa língua ou de uma língua santa, como queiram.
     Sobre ela, São Boaventura (1221-1274), ícone consagrado da Ordem Franciscana, afirmou: "Ó língua bendita que sempre bendisseste o Senhor e fizeste que também os outros o bemdissessem sempre; pela tua conservação se compreende bem qual o teu mérito diante de Deus".
     4. O leitor, católico ou não, já percebeu de quem estou falando. Sim, de Santo Antônio de Pádua. Ele nasceu em Lisboa. Infelimente não se tem, com absoluta certeza, o dia do seu nascimento. Segundo a tradição, teria nascido em 15 de agosto de 1195. 
     O importante, porém, é que se sabe, com exatidão, a data de sua morte: 13 de junho de 1231; e de sua canonização: 30 de maio de 1232, pelo papa Gregório IX. Uma canonização mais do que rápida, tão grandes eram os seus méritos.
     5. Antônio de Pádua, ex Fernando de Bulhões, foi agostiniano antes de ser franciscano. Que é ser agostiniano? É ser frade pertencente à Ordem de Santo Agostinho de Hipona - Ordo Sancti Augustini -  OSA. Atenção: cuidado para não trocar as letras...      Lema dos agostinianos: "Uma só alma e um só coração para Deus". As Ordens religiosas valorizam muito seus lemas.
     6. Os que conhecem sua história, sabem que Santo Antônio de Pádua brilhou nos púlpitos que frequentou.      Aí estão os seus "Sermões" provando ter sido ele um pregador exímio e dono de uma vasta cultura teológica. São Francisco, seu pai espiritual, o chamava, com a sua reconhecida humildade, de "Meu Bispo".
     7.  Fiel às teses evangélicas, que defendia com intransigência, coragem e sabedoria, foi, por isso, chamado de "Trombeta do Evangelho". Porque enfrentou de frente os ímpios do seu tempo, foi, por isso, chamado de "Martelo dos hereges". Com a Bíblia na mão era tão temido que ganhou o apelido de "Terror dos demônios".
     8. Quando estive em Pádua, ajoelhei-me diante de seu túmulo, e rezei. Em seguida, com Ivone, devota antonina ardorosa, fiz (ou fizemos) uma prece no altar que guarda, em belíssimos relicários, as cordas vocálicas e a língua, sim a língua, do festejado santo lisboeta. 
     9. Com muita justiça, Antônio de Pádua é Doutor da Igreja, título que lhe foi dado, em 16 de janeiro de 1946, pelo papa Pio XII, também conhecido - vejam só! - como o "Papa do silêncio";teria calado diante das atrocidades do nazismo. Não se tem certeza disso. 
     10. Pelo muito, muitíssimo de bom, de belo e virtuoso que a biografia de Antônio conta, justos são os benditos, rezas, promessas, ladainhas e trezenas que se fazem e se celebram a cada 13 de junho; sem esquecer as súplicas das mulheres casadouras que reconhecem nele, também, um santo casamenteiro.      
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 10/06/2020
Reeditado em 12/06/2020
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