012. FILHOTES DE CRUZ-CREDO...
 Traquinagens da galera.
 
Fico imaginando de onde vinha tanta molecagem da meninada do bairro. 
Aquele pestinha, contrariando todas as recomendações, subira de forma esbaforida esquivando-se dos incômodos do tronco do coqueiro que havia próximo do curral do Matadouro lá na Chácara Minervino Bethônico e retirara do ninho os três filhotes de Godelo ou Pássaro-preto. Sei lá...
Três filhotes havia no ninho, eram pequeninos e pretos, pretos, pretos mesmo como um carvão que até pouco ardera em brasa.
Suas finas pernas e poucas penas eram como que dois gravetos a sustentar de forma bem sofrida um corpo bem franzino.
Em plena sexta-feira, após a aula ele sacou os bichinhos do ninho e deu um filhote para cada companheiro de travessura, o outro, o levou consigo para casa.
 
Dois dias se passaram, quando os encontrou novamente na segunda-feira, hora da aula com o Mestre Zé Sérgio, os colegas traziam nas mãos os filhotes e nas pernas e costas marca das lambadas de correia.
 
Bem que os meninos tentaram devolver os filhotes ao ninho, só que os pais que ficaram por dois dias voando e piando, como que chamando pelos filhotes desaparecidos também, haviam deixado as proximidades do ninho, desta forma não houve alternativa, senão deixá-los com os trabalhadores da horta, pois voltar com eles para casa era surra garantida e prometida.
 
Seu Alberto falou que ficaria com aqueles “filhotes de cruz-credo(Faísca e Fumaça) e se eles vingassem iria cuidar deles dando-lhes minhocas retiradas do cavoucar dos canteiros de hortaliças.
Durante o dia era na horta que eles ficavam.
À tarde quando os funcionários retornavam para casa eram levados dentro do chapéu de palha forrado com folhas de couve ou de taioba. Em casa tinha que tomar cuidado para o gato “Alfeu” não fizesse deles um lanchinho noturno.
 
Desta forma foram criados até começarem a voar e não mais precisarem dos cuidados noturnos.
 
Mesmo assim, mal os trabalhadores chegavam para trabalhar lá estavam os dois a acompanhar Sô Alberto, batendo as asas e de bico aberto esperando pelas minhocas.
Era uma cena hilária. Sô Alberto e seus filhotes de cruz-credo.
 
Quanto ao outro filhote, o terceiro? Nunca mais o vimos ou dele tivemos notícias, mas eu acho que era um que o pai do Nené, o Sô Mário, andava com ele no ombro lá pelos lados do campo do Campestre Futebol Clube.
 
 

Publicada no Jornal “Fonte da Pedra”

 
CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 10/06/2020
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