015 - VOCÊ PEGOU VOANDO!!!...


Na gíria local, "Pegar voando" significa: Você se deu mal, "sifu".

Todo acampamento que se preza seja ele “Vila ou Bairro”, como um amontoado de gente é também um celeiro de causos; assuntos da vida alheia e fofocas. Aqui em ITABIRA, também, nunca foi diferente. Onde está o homem, o bicho pega!

No Bairro Campestre havia uma espécie de usina, mas é na criação de ditados populares, na verdade parecia-me mais que alguém ficava a ler a bíblia só para fazer adaptações das suas falas dando sempre uma conotação galhofeira.

Expressões as mais diversas parece que nasciam aqui, ganhavam o mundo, mesmo porque o interessante é morar em Itabira, em Minas, ser mineiro é ser cidadão do mundo em qualquer lugar que você chega por aí a fora, sempre encontrará um mineiro, quiçá algum itabirano.
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Tem até um caso de um famoso industrial do ramo de confecções que estando em Nova Iorque, em plena Quinta Avenida, na saída de uma reunião importante. Ainda olhando lá de dentro do prédio, de parede frontal espelhada, cuja visibilidade externa para o interior era nula. Ele viu um tipo bem mineiro na calçada e resolveu abordá-lo:

- E aí cumpadre.
- Você é brasileiro?
Falou ele tentando puxar conversa, o personagem mirou o industrial de cima em baixo e disse assim meio entre os dentes.
– Sô. Respondeu.
- E pelo visto é mineiro?
- E ele
- Sô.
- De qual cidade?
- De Ferros ou Guanhães?
Tentou adivinhar!
Ele emendou.
- De Itabira Uai! Ele respondeu.
- Ah sim, eu conheço Itabira!
- a terra de Drummond, onde foi descoberta uma Orquídea única no mundo no seu gênero e beleza, a “Catlleya Semi Alba Itabirana”.


A mais famosa espécie endêmica de Itabira.
Uma vez estive lá há muitos anos visitando uns amigos. Disse ele:
- É mesmo Sô?
Só assim, depois de quebrar a desconfiança tradicional o papo fluiu normalmente.
Ainda meio cismado, disse o matuto!
- Tava aqui bobeando e achei que ia pegar voando.
- Mas quem sabe tanto sobre Minas e Itabira só pode ser boa gente lá de Santa Maria ou de Itabira.

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Já na Cia. Vale do Rio Doce quando alguém era flagrado em qualquer situação embaraçosa e se dava mal, caia na boca do povo.
No serviço alguém sendo chamado à atenção era comum se dizer,
- Cara você levou “a do Zé Elias”, fazendo um gesto característico e significativo com as duas mãos.
Houve até um caso de certo jovem jogador de futebol de salão/tocador de violão e cantor que ao ser informado da morte de um parente, saiu na pancada com o outro porque ele gritou bem de longe, lá no “Bar Redondo da Pracinha do Valério”.
- Ô fulano seu parente pegou voando, bateu com a caçoleta.
Foi um pegar para capar.

Tem uma história de uma música que virou uma marchinha popular, nos carnavais de Itabira que contava a historia de um motorista de ônibus da Cia. Vale do Rio Doce, ele que não era de Minas Gerais, foi chamado à atenção por ter dobrado a esquina do Juquinha Cabral, que não era sua rota.
Foi flagrado pelo chefe do transporte aí não teve como escapar, levou aquela ensaboada. Quando um dos compadres soube e o assunto caiu no domínio popular, a chamada, ou regulagem, foi cantada em prosa e verso no carnaval da época. O povo cantava mais ou menos assim: (música e letra de Zé Picolé e outros)
- Baiano eu te vi,
- Dobrando a esquina do Cabral.

- Ô Renô, Ô Renô foi o Júlio Papa Roma quem mandou

- Se ele mandou vou chamar-lhe a atenção,
- Todos vocês sabem que ali é contramão.

- Ô Renô, Ô Renô foi o Júlio Papa Roma quem mandou,

Fazendo uma ilação ao fato, acabou se tornando um gesto comum, quando alguém pegava voando, também o sinal com as mãos. - Oooh! Tampinha do ônibus! Era um gesto tão comum como o repetido pelo assessor do presidente lulla, o (m.a Top-top) GARCIA.
Essas expressões eram usadas tanto pela galera mais jovem quanto pelos coroas.
A história da tampinha do ônibus era uma figuração direta com os movimentos da tampinha do cano de descarga dos ônibus da Cia. Vale do Rio Doce e dos ônibus do Zé Prudêncio e Kindô.

É claro que tem histórias que aqui não dá para contar, senão quem vai pegar voando serei eu.
Tô fora!
CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 11/06/2020
Reeditado em 12/06/2020
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