Ser sacerdote em tempos de pandemia

Uns poucos dias depois da minha ordenação sacerdotal, ocorrida em 12 de dezembro de 1998 na Igreja Nossa Senhora do Rosário no centro de Porto Alegre, fui visitar na Casa de Saúde dos jesuítas em São Leopoldo, RS, o Pe. Francisco Stadelmann que estava acometido de um câncer de bexiga fulminante.

Ao chegar à beira do leito, sofrendo muito, parabenizou-me por ser um novo sacerdote e, sabendo que estava em seus momentos derradeiros, disse-me:

– Vê em que estado fiquei reduzido.

Ao aterrizar no aeroporto de Cuiabá no dia 7 de janeiro de 1999, eu estava chegando para a minha primeira missão e soube que ele havia falecido.

Cheguei, no final de maio deste ano, em Londrina, para a missão de Vigário Paroquial e animador da Espiritualidade Inaciana aqui na Paróquia Nossa Senhora Rainha do Universo. E constato nesses meus vinte anos de caminhada que a vida sacerdotal é um “matrimônio” entre o sacerdote e a Igreja, Povo de Deus. Ele compõe-se de três relações nessa ordem de importância:

• Com Deus, que nunca me decepciona porque é perfeito e me ama de paixão;

• Com a Igreja, Povo de Deus, que sempre reconhece e agradece a presença do sacerdote no seu meio e

• A vida comunitária dos jesuítas que tem suas riquezas, mas também seus limites, apresentando-se como o “tendão de Aquiles” em todo o conjunto das relações sacerdotais.

Uma vez que a Igreja, Povo de Deus, encontra-se em casa devido à pandemia e impossibilitada de celebrar publicamente desde março deste ano por ordem das autoridades sanitárias, prefeito e governador, encontro-me diante da seguinte constatação ao ver a igreja vazia nos Domingos:

– Minha noiva sumiu! Onde está a minha noiva? Vejam em que estado fiquei reduzido.

Segundo o psicanalista Massimo Recalcati, a vida familiar domiciliar nesses tempos de pandemia passou por transformações e desafios: supriu a ausência da escola, suportou a angústia dos filhos, manteve aberta a esperança e superou materialmente condições de vida muitas vezes difíceis.

No entanto, o fator mais importante vivido por todos nós segundo ele foi o processo de distinção entre o “essencial” e o “não essencial” que ainda não se pode considerar como concluído.

É muito bom perceber que estamos com muitas saudades e muito desejo de celebrar novamente a Eucaristia todos juntos!