Meus avós

Eu me lembro com carinho do meu avô materno. Eu me lembro como ele se derretia por mim, menina magrinha e de cabelos curtos. Ele me levava para a fazenda, seu árduo e prazeroso trabalho. Cedro, o nome de sua fazenda, localizada no município de Luz-MG. Íamos muito cedo, por volta das cinco horas da manhã, isso porque quando ele tinha essas adoráveis companhias (esposa, filha e netas), atrasava-se sempre, pois levantava-se diariamente às quatro da manhã. Ele dirigia seu caminhão e ia parando nos pontos marcados para pegar seus empregados. Lembro-me da lavoura de café, do cheiro do café verde, das ruas da lavoura. Lembro-me das mulheres com seus lenços na cabeça, algumas com seus filhos pequenos, agarrados em suas saias. Era uma faina trabalhosa e alegre, muitos cantavam... E na fazenda tinha uma árvore que eu amava... Eu gosto de árvores! Admiro sua vida enraizada sem sair do lugar... Gosto quando se balançam ao sabor do vento. Acho que são muito generosas por abrigarem tantas vidas nelas mesmas. Mas a árvore de que falava era o flamboyant. Aquele vermelho de suas flores me remete ao vestido vermelho sangue da dançarina de tango... E no chão, uma profusão de cores vibrantes, vermelho das flores, vermelho da terra batida, verde e amarelo dos ramos e folhas... Um tapete bonito! De tantas árvores, essa me ficou na memória. Eu adorava fazer guizado de pêssego com sal sob sua copa... eu e Carla, minha companheira inseparável. E tinha tantas outras coisas, como o touro holandês Raul, que chorava quando sentia o cheiro do sangue do porco numa folha de bananeira... Eu ficava muito impressionada com tanta comoção! Dia de arrumar porco era de alegria. Eu queria ajudar, mas sei que mais atrapalhava minha avó do que ajudava. Já nos meses de fevereiro ou março trabalhavam no feitio das pamonhas. Ah, Deliciosas! As crianças deviam tirar os cabelos das espigas de milho. Um labor que achava nunca mais acabar. Cestos imensos, montanhas de espigas, montanhas de palhas verdinhas e macias. Dindinha, minha querida avó, gostava de cantar músicas de seu tempo no caminho de volta para casa. Ah, vovô e Dindinha, vocês não viraram estrelas, não se foram, mas estão aqui, bem aqui, no meu coração!

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 26/07/2020
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