Um momento
                    de um escritor
 


                                   Os homens nascem,                                    vivem e morrem, como                                    os dias.
                                        Humberto de Campos


     
1. Há escritores que, apesar da grandiosidade de sua obra, são literalmente esquecidos. Mas, nem por isso, perdem sua imortalidade. Imortais, não porque alcançaram a Academia Brasileira de Letras. Imortais, sim, pela beleza dos seus romances, suas crônicas, seus contos que resistem às garras avassaladoras do tempo. Tão valiosos são seus escritos que se aproximam da perfeição.
     
2. Imprimi, em tamanho A4, fotos de dois escritores que cultuo como deuses e as coloquei nas minhas estantes: Machado de Assis e Humberto de Campos. 
     Amigos meus, que visitam meu escritório, fazem esta pergunta: "Quem são estes? São seus parentes?"
     Não me chateia passar alguns momentos lhes lembrando que são dois escritores pelos quais nutro o mais profundo respeito, citando-lhes, em seguida, os respectivos nomes. 
     
3. É sobre um deles que estou a escrever, aproveitando este frio crepúsculo de Salvador e dando adeus ao sol. Lá se vai ele iluminar outros mundos; clarear outras terras; alegrar outras gentes.
     Escrevo sobre um momento de um esquecido escritor; um momento do escritor Humberto de Campos, cuja obra, conheço boa parte. Inclusive seus livros que chegaram até nós pela mediunidade de Chico Xavier, como, por exemplo, "Crônicas de Além-túmulo". 
     
4. Um pouquinho de sua biografia. Humberto é maranhense, do mesmo estado, portanto, de Coelho Neto, Artur Azevedo, Josué Montello e outros iluminados da literatura pátria. 
     Nasceu no dia 25 de outubro de 1886 na pequena Miritiba (hoje Humberto de Campos) e morreu no dia 5 de dezembro de 1934, no Rio de Janeiro. Morreu muito novo. 
     Frequentou muito cedo as redações de importantes jornais, logo destacando-se como excelente cronista. Mas, somente em 1910, publicou seu primeiro livro, "Poeiras", reunindo seus poemas. E em 1918, publicou seu primeiro livro de prosas: "Seara de Booz". 
     
5. É extensa a sua obra. Merecem ser lembrados alguns de seus livros: "Sombras que sofrem", "Os Párias", "Carvalhos e Roseiras", "À sombra das Tamareiras", "Lagartas e Libélulas", "Reminiscências", "Contrastes" e muitos outros, usando o pseudônimo de Conselheiro XX, como "A Bacia de Pilatos". 
     Escondeu-se atrás de vários pseudônimos: Almirante, João Caetano, Giovani Morelli, Justino Ribas e mais outros.
     Formulou frases belíssimas como esta: "Que inveja eu tenho desses homens que recebem todos os dias, para as lutas da vida, o prêmio do sono!..." Como eu, ele enfrentava insônias intermináveis. 
     
6. O momento com este extraordinário escritor da Atenas brasileira, Humberto de Campos, é registrado por Josué Montello no seu livro "Na casa dos 40", a casa de Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras. Nesse sodalício, Humberto ocupou a Cadeira n. 20, eleito em 30 de outubro de 1919. 
     
7. O momento. "O nome do escritor - Ao ser lavrado no Palácio do Catete o decreto que nomeava Humberto de Campos, diretor da Casa de Rui Barbosa, Gregório da Fonseca, seu colega de Academia e Secretário do Presidente da República, telefonou para o cronista maranhense perguntando-lhe o seu nome por extenso. 
- Humberto de Campos - respondeu ele.
E Gregório, surpreendido: - Só? Assim tão curto?  - Só - confirmou Humberto. E num resumo de seu destino de letras: - E assim tão curto você não imagina o trabalho que tive para fazê-lo".
     
8. Humberto de Campos teve seus últimos dias de vida muito sofridos. Em 1928, foi diagnosticado com hipertrofia da hipófise. Cegou.
     Suportou, porém, com dignidade e coragem os males que o atingiram nos seus 40 e poucos anos. Morreu com 48.  Certa feita, escreveu: "Bom ou mau, o vinho da vida deve ser bebido até que nos retirem a taça dos lábios".
     
9. Vou terminar na companhia do crítico literário Agrippino Grieco (1888-1973), muito temido por causa de seus rigorosos julgamentos. Sobre o autor de "Sombras que sofrem", ele declarou: "Prosador, era um dos maiores poetas". Ao implacável Grieco diria que sou mais o Humberto cronista, prosador.
     

       
  


 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 30/08/2020
Reeditado em 31/08/2020
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