A santa e as crianças

Boa tarde meus 23 fiéis leitores e demais 36 que de quando em vez vem aqui nesse meu ensino fundamental literário ler crônicas infantis. Rezaram para o Papai do Céu antes de dormir, ontem? A sra Bacamarte me fazia rezar e eu peguei o costume, depois perdi o costume e atualmente retomei o costume. Era do tempo dessa minha foto aí que eu coloquei, que é do tempo da minha Primeira Comunhão. E eu ali, tri estiloso, com cara de latin lover, eh eh eh eh.

Hoje é o Dia da Criança. Um dia a mais paras as crianças incomodarem querendo que tu compres brinquedos pra eles, para fazer rodar a roda da economia capitalista. Dar brinquedo é amar. É mesmo? Nada a ver, pode ser e pode não ser, pode ser até desamor. Concordam? Nossas crianças ficam mal acostumadas ou bem acostumadas com essas coisas?

Nossa Senhora Aparecida. Hoje é o dia dela também que, desde 1980, é oficialmente reconhecida como a Padroeira do Brasil. Eu estava por aí em 1995, quando o maluco aquele deu pontapés numa imagem da santa na TV, num 12 de outubro. Que horror aquilo, que cara mais doente. Vade retro, satanás! É o legítimo fundamentalismo cristão da fé cega, faca amolada, intolerante com a fé do outro, que tanto mal já causou no mundo pelos séculos, deturpando a Palavra de Jesus.

Mas voltando à Nossa Senhora Aparecida, que história mais bacana, né? Uma imagem achada num rio, sem a cabeça. Jogaram a rede, acharam a cabeça, e depois a pescaria dos caras começou a render. A imagem de argila cozida estava enegrecida e isso acontecer logo nos anos 1700, quando grassava a escravidão. Pescadores achando uma imagem da Virgem Maria (Conceição, no caso), o peixe vindo, a santa era negra. Parece que Deus estava se comunicando com o povo oprimido, não é mesmo? Ora, Jesus não nasceu numa estrebaria, junto aos bichos, como um exilado? Tem o mesmo sentido a aparição da imagem da santa, enegrecida, que ainda foi escurecendo mais com o passar do tempo e agora é a padroeira do país. Uma devoção religiosa que veio totalmente de baixo para cima, devoção 100% popular, povão mesmo. Admirável isso.

O que seria melhor hoje, no Natal, na Páscoa, dar presentes ou fazer as crianças pensarem no amor de Deus? Sei, dá para fazer as duas coisas, mas a qual delas dar ênfase? O que a gente ensina para as crianças enchendo elas de brinquedo como um fim em si mesmo, um prazer egoístico do ter? Penso que a religião é uma das maneiras que existem para estimular e educar visando construir uma subjetividade altruísta, focada no ser. Essas datas religiosas são uma oportunidade para isso. Ainda mais uma história tão bacana como essa, 303 anos de um fato com uma origem devocional tão sincera e desprendida. Creio que ela nos diz algo muito importante sobre o amor ao próximo.

Por esses dias, com as dores do mundo, desejei voltar a ter 12 anos, viver pelo pensamento mágico. A sra Bacamarte me fazia rezar antes de dormir. O mais importante disso tudo é que ela me ensinou a olhar e a respeitar o outro, através de crença dela. E imagina que num país tão grande, muito maior que a casa de meus pais, uma santa de argila decapitada teve força para fazer tanto por um povo? Um milagre, realmente.

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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.

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(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013: "23/10/2013 00:18 - Giustina

Oi, Antônio! Como hoje não é mais aquele hoje, acredito que não estejas mais chateado... rsrrs! Quanto ao teu blog, sugiro que continues a divulgá-lo, afinal, numa dessas tu lembras tua senha... Grande abraço".).

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 12/10/2020
Reeditado em 12/10/2020
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