Naquela mesa ‘tá faltando ele'
Entro na Casa Branca neste 7 de novembro de 2020. Um silêncio quase absoluto. Nenhum segurança ou funcionário para deter-me. Vou abrindo as portas. Chego no Salão Oval e encontro sentados à mesa com cara de jururu a Melania, a Ivanka e o Jared, seu marido.
– O que aconteceu?
– O Donald – disse o Jared – ao saber da derrota, saiu há pouco daqui da Casa Branca de mala e cuia.
– Como brasileiro, nascido na terra do futebol, do carnaval e do samba, quero cantar duas músicas para vocês nesse momento de dor que retratam bem a personalidade do Donald revelada ao mundo de forma desenfreada nos últimos quatro anos.
Tão desarvorado quanto uma árvore prestes a pegar fogo na Amazônia ou no Pantanal é um presidente, um marido, um pai que sai de repente porta afora de casa de mala e cuia, ziguezagueando já fora do espaço-tempo...
Puxo o meu bandolim e começo a cantar a música “Naquela mesa” de Nelson Gonçalves e Raphael Rabello:
– “Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa 'tá faltando ele
E a saudade dele 'tá doendo em mim
Naquela mesa 'tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa 'tá faltando ele
E a saudade dele 'tá doendo em mim
Naquela mesa 'tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
Naquela mesa 'tá faltando ele
E a saudade dele 'tá doendo em mim
Naquela mesa 'tá faltando ele
E a saudade dele ‘tá doendo em mim”.
(aplausos)
Parece que consegui amainar um pouco o sofrimento deles.
Lembrando que ele demorava mais tempo para arrumar seu penteado do que as atrizes Catherine Deneuve e Sophia Loren, resolvo não fazer nenhuma observação humorística para elevar o ânimo dessa turma. Definitivamente, ainda não é a hora de chamar “urubu” de “meu louro”...
No alto cargo em que ele ainda se move, é normal recusar-se a reconhecer a vitória do canditato oponente já confirmada na apuração dos votos competente e pacífica em quase todos os estados da Federação? É melhor deixar essa filosofia para depois e continuar seguindo pela via artística.
Puxo o meu bandolim e começo a cantar a música “Maluco Beleza” de Raul Seixas:
– “Enquanto você se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual
Eu do meu lado aprendendo a ser louco
Um maluco total
Na loucura real
Controlando a minha maluquez
Misturada com minha lucidez
Vou ficar, ficar com certeza maluco beleza
Eu vou ficar, ficar com certeza maluco beleza
E esse caminho que eu mesmo escolhi
É tão fácil seguir por não ter onde ir
Controlando a minha maluquez
Misturada com minha lucidez
Eu
Controlando a minha maluquez
Misturada com minha lucidez
Vou ficar, ficar com certeza maluco beleza
Eu vou ficar, ficar com certeza maluco beleza
Vou ficar, ficar com certeza maluco beleza
Eu vou ficar, ficar com certeza maluco beleza”.
(não houve aplausos)
Ichh... Antes que o sentido da música comece a decantar em suas mentes e baixe aqui um ambiente constrangedor pesado e arriscado é melhor eu “cascar fora” – sair de fininho! Antes, uma perguntinha.
– Vocês sabem quem sou eu? Sou o Secretário de Relações Exteriores do Alegrete, uma cidade do sul do Brasil!
Despeço-me cordial e rapidamente de cada um deles.