Falando com os cães e flores

Apesar de saber que o Raul Seixas já sabia que entre as cercas embandeiradas dos quintais surgiria, um dia, num cume calmo, a sombra sonora de um disco voador, para assim fazermos o sonhado contato direto de primeiro grau - eu continuo tentando outras comunicações.

Como todo solitário (solitário não é solidão) ando conversando bastante com as paredes, numa linguagem imperial, o que digo fica dito, sem réplicas. Também troco infinitas ideias (conflitantes e às vezes inconclusivas) comigo mesmo, o que é pouco recomendável, eu sei. Entre os nossos Eus, o melhor diálogo é o silêncio.

Mas gosto mesmo é de conversar com os cães (os peludos). Uso com estes uma conversa direta, apenas dando aquele tom e sotaque que eles tanto gostam, meio infantil. Acredito que é a melhor comunicação que tenho tido, pois o retorno é reciproco e imediato, com lambidas, abanos de rabo, pulos e sorrisos.

A recíproca tem sido muito maior que com os humanos, esses seres sem ouvidos, sem tempo, e sem sensibilidade.

Estou treinando, agora, a conversação com as plantas, numa linguagem tátil, e estas têm respondido bem, com flores e cores, verde, amarelos, vermelhos e meios tons e alguns espinhos.