170 - DUCARMO...

170 – Ducarmo...

Minha irmã, uma guerreira.

Ducarmo, “MARIA DO CARMO COUTO PINHEIRO”, a oitava de um time de doze irmãos.

A primeira nascida em Itabira e com Assistência Médica e realização do parto feito em Hospital. Na nossa família, é claro, os outros filhos nascidos em cidades menores as mais diversas onde meu pai ocasionalmente estivesse trabalhando como operador de Máquinas de terraplenagem nasceram sem o luxo do hospital. A vinda ao mundo nestas outras cidades ou acampamentos das empresas era com assistência de parteiras locais.

Logo que ela chegou à idade escolar vivia reclamando cansaço e dor nas pernas durante as brincadeiras, educação física e durante as aulas. Os meus pais levaram-na aos médicos do Hospital local e nada foi diagnosticado como preocupante: apenas doença de criança “filho de pobres”, quem sabe uma fraqueza endêmica ou anêmica.

Dito assim, quase na brincadeira parecia mesmo algo sem maior gravidade. Foram receitadas injeções para combater o que chamavam febre de reumatismo. Bem mais tarde, quando atingiu a adolescência como o quadro não melhorasse significativamente mesmo com o uso constante de medicamento, os médicos que acompanhavam informaram que ela teria que tomar a vida inteira um antibiótico fortíssimo: Benzetacil 1.200 para combater reumatismo que agora, diziam ser nos ossos.

Novos exames com médicos daqui da cidade de Itabira. Infância e juventude muito comprometida. Outros médicos achavam que a doença dela, era uma estranha doença tropical que assim supunham e tratavam, por anos a fio.

Eis que, em uma das consultas, o Doutor Francisco Martins da Costa, médico pediatra dos mais competentes, disse para minha mãe: – O caso desta menina eu vou investigar e estudar: - Não acho que este caso tem nada a ver com o que falam: - Me dê um tempo! Já, já “isto eu resolvo”!

Assim se passaram os anos... Tal doença, que outra parecia ser, era mesmo “reumatismo no sangue”, diagnosticado, após exames de sangue bem especifico, na Capital do Estado.

Entre crises, de tempos em tempos, Maria do Carmo levou a vida superando a doença e as dificuldades, mesmo com saúde combalida. Mais conhecida como Ducarmo, nunca deixou de estudar e trabalhar. Adorava viajar quando em férias e, se possível, sempre levava consigo uma das irmãs menores.

Quando faleceu estava funcionária pública municipal e professora na FIDE. Jamais perdeu seu bom humor e adorava brincadeiras com os familiares. Fazia piadas até com a própria doença dizendo que nem mesmo doença ela queria coisa comum. Gostava muito de leitura de ficção e literatura clássica. Às vezes ela ficava horas e horas com um, baralho na mão jogando paciência... Mas, tinha uma coisa que ela detestava quando nós a chamávamos de Du.

Outro traço de sua personalidade era mania de ironizar os feitos dos irmãos, se não gostasse de qualquer coisa feita, logo dizia: “Isso é coisa de fulano, não tá vendo que a obra, tal qual o feitio, se parece com o dono”?

Mas, incomum mesmo era o carinho que ela dispensava a todos familiares e amigos. Fico imaginando com a ternura que ela tratava todas as sobrinhas que ainda eram pequenas, se tivesse conhecido as minhas netas seria uma festa todo dia. Carinho e ternura a grande marca que ela deixou impregnada de saudades. Nasceu e viveu no Bairro Campestre, mais precisamente no Berra Lobo. Estranha ironia... Perdemos nossa irmã aos trinta e sete anos vitimada por uma estranha doença chamada Lúpus, ficou um imenso vazio denominado saudade...

*22/09/1957 +13/10/1993

CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 23/01/2021
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