DÔRA...












Foto das gêmeas Maria Eliza e Maria Auxiliadora (à direita)



Família de muitos filhos, uns saem assim, outros assados, e se os dedos de uma mão não são iguais, imaginem entre doze irmãos. Algumas semelhanças podem ser identificadas. As duas quando nasceram eram tão iguais quanto dois joelhos ralados, de alguém que caíra de patinetes.

Nasceram gêmeas idênticas. No início era uma dificuldade para saber quem era quem, pareciam um parzinho de alguma coisa, ainda mais com a mania de serem vestidas com roupas do mesmo tecido e cor. Maria Auxiliadora (à direita) nasceu primeiro; minutos depois, Maria Eliza.

À medida que foram crescendo, mesmo que houvesse muita semelhança física, tornou-se mais fácil identificá-las. Na maneira de ser foram se distanciando. Segundo minha mãe a principal característica: “uma era mais danada que a outra”.

Maria Auxiliadora, mais exigente desde já demandava algumas prioridades desde a hora de mamar até depois... E para sempre e em tudo.

Antes de virmos para a cidade Itabira as coisas se davam com mais dificuldades, apesar de meu pai ser um batalhador. Mulher e cinco filhos, até esta época, nunca foi exatamente tarefa fácil de cuidar. Tivemos infância pobre, sem, contudo viver uma vida miserável. Nossos pais nunca deixaram faltar o alimento indispensável à nossa manutenção e sobrevivência. Mas, também não se poderia dizer que as coisas eram fáceis. Era muita luta.

Nunca tivemos casa própria, sempre morando em acampamentos das empresas e a melhor das muitas que já moramos situada no Bairro Campestre no acampamento da “Cia. Vale do Rio Doce”. Uma história igual a muitas outras dos amigos de infância, vidas entrelaçadas de carinhos e saudades.

Crescemos junto a muitos amigos e vizinhos. Claro que as tarefas domésticas eram repartidas entre os filhos, assim como o carinho da nossa mãe.

Dôra era diferente, nunca se contentou em levar uma vida igual todos os dias. Queria viver aventuras, talvez inspiradas nas fotonovelas que muito gostava de ler.

As gêmeas nasceram canhotas, para usar uma expressão bem da época. Minha mãe sempre dizia que ela era da pá virada, talvez querendo referir-se ao fato de que se remássemos para a direita e ela iria remar para a esquerda.

A vida, Dôra procurou vivê-la intensamente como se soubesse ser a sua vida breve passagem aqui na terra. Tudo para ela era uma festa: aniversários, natal, carnaval, semana santa, isto sem falar em qualquer outro motivo. Perder festas, não, nunca! Se havia festa, dizia “tô nessa”.

Fora os avós paternos ou tios e tias, nossa primeira perda de vida foi Maria Auxiliadora Couto Pinheiro, nome de batismo. Levou a vida inteira, como Dôra. Neste caso, não por acaso, a água símbolo da vida perene na terra enquanto água existir foi a responsável por sua partida.

Parecia predestinada a morrer em águas revoltas... Quase morreu afogada nas águas do mar, em Vitória no Espírito Santo, na praia de Itaparica. Mas a vida seguiu em frente e ninguém sabia o que estava reservado. De uma coragem quase irresponsável, Dôra não queria perder tempo, sempre arranjando motivos para ir nadar em algum lugar, rio lago ou cachoeira.

Em janeiro de um mil e novecentos e setenta e três. Numa dessas tardes de sol a pino... Sol de veranico como se dizia na época, com objetivo de aproveitar o último dia de férias do seu namorado o Albeni e do Paulo noivo de sua amiga Terezinha. Saíram depois do almoço e foram nadar no Rio em Santa Maria.
Nossa irmã Dôra, a água levou...
Ela levou e levou também o noivo de sua colega de aventuras. Bem mais que um simples namorado da amiga Terezinha, um amigo, que se atirou na corredeira, ou poço sinistro, saltou para a morte na vã tentativa de salvar-lhe a vida.
Nesta tarde, lá pras bandas de Santa Maria morreram, no chamado “Poço redondo”, Dôra e Paulo Coelho Guimarães.
O Paulinho, filho de Dona Paulita e Sô Analito e irmão de Zé Ilton e Zé Mauricio.
 
Seu lema:
Viver a vida agora.
Pois, quem sabe da vida
a escrita?



Foto no Grupo Escolar Mestre Emilio Pereira de Magalhães




Dôra foi embora muito nova, 23 anos somente.
CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 23/01/2021
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