A BRIGA CERTA
Há um professor na sala de aula, e sua função é educar. Para quem ainda não refletiu, isto supera o simples intelectualizar, tornar letrado, incutir ciências. Vai além de pôr molduras nas visões do mundo e da vida, e preparar andróides para corridas mercadológicas.
À sua frente os alunos... Crianças e/ou adolescentes que não foram dar, mas receber exemplos de postura, caráter, comportamento. Foram aprender, não ensinar sobre cidadania, civismo, bem viver. Nada deve o aluno ao professor, e sim, o professor ao aluno.
Seria excelente para o médico receber pacientes curados; para o bombeiro, socorrer gente socorrida; para o advogado, defender o cliente resolvido. Também é cômodo – mas irreal – o professor receber alunos já educados em plena idade verde. Alunos já preparados para viver e se comportar diante da sociedade.
Chamar um menino de “capeta” e dizer que ele não tem jeito é tudo que os pais – na maioria dos casos – já fazem. Levá-lo constantemente pela gola da blusa à sala da direção ou coordenação de turno é repetir o que alguém já fez com ele no trajeto casa-escola. Professor que vive confessando não aguentar a turma fracassou.
Não é questão de dominar, ter pulso, voz ativa e amedrontadora. É questão de educar, mesmo. Isso exige amor, sutileza, dom natural, consciência da importância do que faz e da seriedade do compromisso que assumiu consigo quem escolheu o magistério.
Nem é questão salarial e de valorização pelo governo, patrão ou sociedade. Se como educadores vamos brigar por isso – e devemos brigar –, nossa briga não é com o aluno. Até mesmo nessa hora deve ser por ele, não com ele, pois a sua carência ultrapassa; é muito mais cruel e profunda do que a nossa.
Somos os professores... Não eles. São eles que hoje devem esperar de nós. O que devemos esperar deles, para eles mesmos, é futuro. E esse futuro, muitas vezes depende mais de nós que de seus pais – aos quais devemos constantemente substituir.