Quaresma e o modelo por excelência

Na Quaresma, tempo de conversão, buscamos na Palavra de Deus nossas raízes, nossa segurança e nosso dinamismo. E ela nos revela de forma muito clara:

“Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conheceu a Deus porque Deus é Amor” (1 Jo 4, 7-8)

Se Deus, portanto, é Amor, nós pobres mortais devemos procurar na Criação o modelo por excelência, quer dizer, qual dos seres criados mais se parece com Ele. Sabemos que somos, como seres humanos, todos “imagem e semelhança de Deus” (cf. Gn 1, 26), mas a Ética nos mostra um modelo maior que vai um pouco mais longe, quer dizer, permite maior aproximação, nos apresentando a Mãe como a maior representante da “ética de máximos” do planeta.

Quem é a Mãe? Ela é uma mulher que uma vez fecundada, através da interação ovário / hipotálamo / hipófise, é capaz de gerar a vida. A Mãe é o “laboratório da vida”. Ela gera um novo ser humano desde o zigoto – primeira célula –, acompanhando seu crescimento no seu interior numa sucessão de momentos, dias, semanas e meses.

Deus também gera a vida. “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito. O que foi feito nele era a vida e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam” (Jo 1, 1-5)

E o que faz a Mãe tão próxima de Deus é que “Espírito de Santidade”, em hebraico, quer dizer, Ruah HaQodesh e é mencionado com o artigo feminino (tradução: sopro, vento, respiração, espírito). O Espírito Santo na Santíssima Trindade apresenta-se como sua dimensão feminina.

Mas Deus é muito maior do que a Mãe. “Por acaso uma mulher se esquecerá de sua criancinha de peito? Não se compadecerá ela do filho de seu ventre? Ainda que as mulheres se esquecessem eu não me esqueceria de ti.” (Is 49,15)

A mãe, quando vê seu filhinho de três anos brincando no tapete, sente por ele o que Deus sente quando olha para nós. Só Deus e as mães sentem isso por uma criatura de forma tão intensa e plenificante.

E nós que não somos mães e não sentimos o que só sentem os “geradores da vida”, precisamos subir nos ombros delas para vermos mais longe. Que bom seria se elas falassem para nós o que sentem, como amam! Mas, falar para quê? Só faz perguntas quem quer esclarecer dúvidas; só escreve um texto quem quer codificar em palavras uma experiência ou uma opinião. As mães não precisam disso. Ao olhar para seus filhos seu universo interior já alcança sua plena expansão de forma instantânea! É uma experiência deslumbrante que como autor masculino mal consigo intuir...

O que resta para nós: Continuaremos “chupando o dedo” numa espera infinita... Mas, ainda assim, pedir não ofende: – “Mães, por favor, falem o que sentem, como amam, para nós, reles mortais “não geradores de vida”; “Oh Deus, quem é como tu?” (Sl 71 [70], 19) “... queremos ver Jesus”. (Jo 12, 21)

“Quanto a mim, como oliveira verdejante na casa de Deus, é no amor de Deus que eu confio, para sempre e eternamente”. (Sl 52 [51], 10)