ORIGENS DA MITOLOGIA BREGA

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Para entendermos melhor as origens da mitologia brega precisamos, antes, nos reportar ao tempo da escrita da Ilíada e da Odisseia, porque, nestes dois livros, Homero nos fala dos heróis épicos, como Ulisses e Aquiles, nos fala dos deuses gregos, e dos efeitos das querelas entre eles e elas sobre os homens, no caso da Guerra de Troia das deusas Afrodite, Hera e Atena, envolvidas no primeiro concurso de beleza da história, quando Afrodite, ao ajeitar a franja – o gesto mais feminino de todos os tempos –, venceu o concurso, ao ser escolhida por Páris como a mais bonita, por as três terem prometido a Páris, se aceitasse ser o jurado do concurso, fazer com que se realizar o amor que Páris sentia por Helena, motivo do rapto de Helena e do início da guerra de Troia.

Note-se, agora penetrando verdadeiramente no assunto, que no momento da escrita da Ilíada e da Odisseia não se registrava no texto o tempo em que tais importantíssimos eventos aconteceram, podendo os dois livros ser lidos como se estivessem ocorrendo em qualquer tempo, característica essa desses textos da antiguidade clássica.

A alusão ao tempo, falado como “naquele tempo” surgiu na Escócia quando James Mackperne escreveu o Beowulf, texto épico, em que os heróis eram cantados dentro de um contexto temporâneo claro, deixando uma ponta de saudade nos que os conheciam, ponta de saudade capaz de ser compreendida numa perspectiva melancólica, porque foi na Escócia que houve as primeiras manifestações do romantismo, tendo o escritor Goethe citado um trecho do Beowulf no livro Os sofrimentos do jovem Werther, importante texto do então emergente romantismo alemão.

Ocorre que a partir do Beowulf, o mito do herói absoluto, como Ulisses, apesar de haver recidivado em textos aqui e acolá, passou a não ter a mesma força, como se tal tipo de herói só pudesse ter ocorrido naquele tempo que deixou saudade. Causando inaptidão no homem que quisesse se tornar herói, inaptidão exponencial após a guerra do Vietnã, na qual os americanos foram derrotados em batalhas campais, provocando outros métodos de guerra, nos quais a tecnologia quase suprimiu as batalhas campais, porque o inimigo passou a ser bombardeado desde o alto, por aviões, empurrando para o fim da guerra os confrontos campais, como aconteceu na segunda Guerra do Golfo.

Desde então e cada vez de maneira mais incisiva, os heróis e os mitos modernos e contemporâneos passaram a ser criados pela publicidade, podendo-se abrir uma exceção para o esporte, quando o esportista se torna um mito ao realizar proezas na modalidade esportiva na qual atue. Como a propaganda é a alma do negócio, o herói criado pela publicidade é um herói sem alma, isto é, falso em sua maior medida, porque na verdade nem é herói e muito menos mito, é apenas um oportunista bem sucedido seja como político seja como artista, inclusive fazendo que os mitos da cultura e do folclore sejam lançados ao esquecimento, quando na verdade, estes sim são a alma de um povo.

É do espaço ventre-vazio relativo aos mitos verdadeiros que surgem os sujeitos “míticos da mitologia brega”, no Brasil e no mundo, como Bolsonaro e Trump – o rejeitado –, cheios de processos na justiça, razão pela qual dizem estar sofrendo perseguições.

Há tempos venho tentando fazer uma distinção entre os heróis épicos e os trabalhadores (laborativos), isto é defendo que o herói épico não voltará, embora apareça como ícone da mitologia brega, aqui e acolá, sempre para fazer muita lambança. Enquanto o herói laborativo é aquele que trabalha para a nação sem tugir nem mugir, quase silenciosamente, razão pela qual nem sempre é percebido. Mas creio que os heróis epicianos logo passarão para a história como lixo da história, a fim de que a mitologia brega não possa mais tomar lugares no parlamento, no senado e no executivo.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 13/03/2021
Reeditado em 21/03/2021
Código do texto: T7205748
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