Vacinas e suas ações contra as variantes do Corona vírus

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Como médico pediatra, tenho acompanhado pela imprensa cientistas e políticos no debate sobre a pandemia do Corona vírus. A pediatria é a especialidade médica que mais trabalha com vacinas, não há segmento etário mais vacinado que o da infância, que no caso da vacina contra o Corona vírus não está sendo vacinada ainda porque a incidência de casos graves é pequena. Entretanto, estatisticamente, não vale nada para os pais de uma criança ouvir de quem quer que seja que, caso ocorra gravidade da infecção pelo Corona vírus, que o que ocorreu com o seu filho tem uma incidência de quanto por cento (0,0001, por exemplo) porque para esses pais o que ocorre com seu filho é sempre 100 %!

Feita a ressalva acima, recomendamos que as criança usem máscaras e tenham grau de proteção máxima.

Ontem ouvi entrevista da doutora Natália Pasternak na CNN e hoje ouvi o depoimento do doutor Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã. Sem detrimento do cavalheirismo em relação a Pasternak, comentarei antes as falas do Dr. Dimas Covas porque, assim, creio que ficará mais fácil entender a ação das vacinas quanto a seu modo de ação imunológica e quanto as variantes.

Lembrou-nos Covas que a resposta imunológica se dá de duas maneiras: produção de anticorpos e resposta celular ( mediada por linfócitos), isto é, que, ao ser inoculado, via vacina, o antígeno viral, o arsenal de defesa imunológico por produção de anticorpos específicos e reações linfocitárias específicas se dará a curto, médio e longo prazo.

E que, como acontece com todo o corpo no processo de envelhecimento com todo o corpo, citando-se, por exemplo, a diminuição dos reflexos nos velhos, o sistema imunológico também envelhece, se denominando tal processo de imunossenescência, que justificaria a morte do querido sambista Nelson Sargento. .

Covas, ao responder uma pergunta bem-feita pelo senador Eduardo Girão, que perguntara o porquê da morte de Nelson Sargento por COVID-19, e porque da não viragem sorológica em exame feito no ex-presidente José Sarney, dinossauro da política nacional, disse o seguinte: a resposta à infecção dada pela vacina é celular e por produção de anticorpos, tendo importante ação a imunidade celular, sendo não recomendada a dosagem de anticorpos em laboratórios de fácil acesso para a medição de que se a vacina está sendo eficaz ou não, isto é, a não viragem (positivação de anticorpos no soro do sujeito vacinado) não significa que o sujeito não esteja imunizado.

Vacinado com a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantã, cheguei a pensar em fazer a sorologia para a Coronavac de forma seriada, uma vez por mês, mas, diante da explanação de Covas, desisti de fazê-lo, porque só alimentaria a minha paranoia. Justa paranoia, porém sem nenhum sentido face à argumentação científica, mas que se tornaria doença com ideia fixa.

Reportando-me, agora, ao que disse Pasternak ontem, quanto às vacinas, não esquecendo que a resposta imunológica é mediada pela reação de produção de anticorpos e reação celular linfocitária, foi sugerido que a Coronavac, por ser vacina de vírus inativado, isto é, de vírus causador da doença, que a Coronavac tem uma superfície viral semelhante ao do vírus vivo, que pode não só produzir anticorpos como oferecer o corpo inteiro do vírus como estimulação à reação celular e à produção de anticorpos simultaneamente. Algo que a partir dessa premissa faz pensar que a Coronavac possa ter ou vir a ter maior eficácia contra as variantes novas, inclusive a de Manaus e a advinda da Índia.

Não sou cientista, nunca quis ser, sempre pratiquei a medicina baseada em evidências, mesmo porque ela surgiu nos anos setenta do século passado, quando obtive minha graduação em medicina, além de tudo não sou burro, sei como funciona o pensamento científico, lamento que existam colegas médicos burros, cujo fanatismo político ou o despreparo moral para o exercício da medicina atrapalham o raciocínio, inclusive de quem os lê.

Pergunto aos não médicos eventuais leitores desta crônica se entenderam o que eu disse, estou a disposição para tentar redimir dúvidas ao meu alcance, aos médicos burros recomendo que estudem, porque a única maneira de não falarem besteira é dizer o que está escrito nos compêndios de medicina e em trabalhos científicos sérios.

Às ordens.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 27/05/2021
Código do texto: T7265409
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