A humildade
Somente a humildade pode exercer domínio sobre o temperamento. A humildade sabe esperar a hora certa de a razão aparecer. Irmã do cavalheirismo e da gentileza, a humildade é ourivesaria, é estátua que não se ajoelha contra o mal. Lembremo-nos do Mahatma Gandhi, orgulho da humanidade. Mostrando o orgulho da vitória da não violência. Não é à toa que a humildade é o oposto da soberba, sem que esqueçamos que a soberba é o maior de todos os pecados.
A humildade permite tudo ao pensamento, não tem ideia fixa fora do ideal do bom combate. E o bom combate tem senso de oportunidade, tem a beleza de ser percebido como exemplo, o bom combate não é onipotente, mas a ira do humilde sabemos ser a mais justa de todos.
Quando o amor-próprio é ferido, na humildade o acalanto vem de dentro como se fosse brisa, porque a humildade não possui complexo de inferioridade. A humildade é o esforço de ter escalado a montanha, mesmo que o andarilho tenha caído e levantado no curso do caminho, pois ser humilde exige força de vontade. Vontade capaz de transforma tempestade em chuva de verão, capaz de dobrar o temperamento ruim, capaz de consertar o problema de caráter.
A humildade fala em vez de gritar.
É dona do perdão e do exercício do perdão em relação ao próprio ser e aos outros seres. Sem com isso ser leniente com o que é errado.
Oposta à soberba, a vaidade é a baliza sob a qual enxergamos amplidões maiores, beleza, poesia, exegese.
Desde a humildade é que o ser desenha a sua própria aura, expurga os exageros cabidos na luxúria, na inveja, na preguiça, na ira, na gula e na avareza. Em sua maneira de ser a humildade evita os crimes da paixão, porque o humilde prefere sofrer a cometer qualquer delito.
Ao aceitar o sofrimento, a humildade não permite quem a exerça de se transformar em sofredor-mor, porque o humilde nunca acha que a sua dor é a maior do mundo, o humilde sabe que algo pior já aconteceu com outros seres humanos.
O humilde sabe se decepcionar consigo mesmo, sabe aceitar decepções porque sabe suportar frustrações e desapontamentos, mesmo os definitivos, sem querer transformar escória em ouro.
A humildade é como um doce que edulcora o pensamento; torna o amor ao próximo mais bonito, torna o enamorar-se doce e tranquilo, por ser impermeável às paixões e às tempestades.
Só a humildade é capaz de entender com paciência as dificuldades relacionais com os entes queridos. Só ela transforma os pais, só ela transforma os filhos. A humildade é a mãe de todos os diálogos, é o ferreiro que realiza a boa têmpera da espada.
A humildade permite ao pensamento ir até ao fim, mesmo ao ponto de inflexão contra quem, vitimado pelas paixões, quer destruir a razão e o sentimento compassivo ou o amor!
A humildade é fruto e pão de cada dia, é o céu da boca assemelhado a abrigo do firmamento. Sem ela, o ser humano nunca se encontra, nunca evolui, sendo apenas sombra do que poderia ter sido. A humildade faz da solidão a mais doce companheira.
Humilde é o silêncio do poeta. Viva a humildade.