Cigarras inspiradoras

     1. Prossigo no meu projeto de escrever sobre eles. Eles? Eles quem? Os poetas e cronistas com os quais me divirto na minha leitura diária.
     Até agora, escrevi sobre Dom Marcos Barbosa, Gonçalves Dias, padre Antônio Tomás, Juvenal Galeno, Belmiro Braga, Casimiro de Abreu e Rubem Braga, o Sábia da Crônica. 
     
2. Volto a dizer: não se trata de escrever ou reescrever a biografia dos escritores escolhidos. Visa, fazê-los lembrados, e, ao mesmo tempo, agradecer-lhes o que de bom e bonito eles nos oferecem, através de seus luminosos textos. E de graça.
     
3. De graça? Ora, nem sempre tão gratuito como se pode imaginar.  Nem sempre essa gratuidade é assegurada e digo por quê. Vejam: os livros estão caríssimos e difíceis de serem comprados.
     As livrarias, na sua maioria, fecharam, atingidas pela pandemia que chegou arrasando. Aconteceu na Bahia, a terra de Ruy Barbosa e Castro Alves. Cerraram suas portas as Livrarias "Saraiva" e "Cultura". Uma tragédia!
     
4. Não só as livrarias foram atingidas. Sabe-se que as Editoras passam por sérias dificuldades e por isso deixam de editar obras de bons escritores.  Uma lástima! 
     Tem-se, então, que adquirir livros pela Internet. Muitos brasileiros não podem comprar um Notebook e nem se filiar a uma boa operadora. Com o que ganham, compram o leite das crianças. Outros não sabem adquirir livros pela Internet; este que vos fala é um deles. Dura realidade, companheiro. 
     
5. Vamos, agora, ao encontro do poeta que escolhi para minha crônica de hoje. É o poeta das cigarras: Olegário Mariano Carneiro da Cunha. Vate, como disse alguém, de poesia "lírica e simples".
     Digo eu: poesia simples, mas o fez um dos maiores poetas do Brasil e o ajudou a conquistar o honroso título de  Príncipe dos Poetas Brasileiros. Não fabricou versos. Fê-los, ouvindo o canto do seu coração. 
     
6. Por que o poeta das cigarras? Porque  Olegário dedicou-lhes boa parte de sua poesia, resultado da amizade e admiração que nutria por esse esquisito inseto.
     Poderia transcrever muitos e belos poemas de Olegário cantando as cigarrinhas. A seguir, mostro sua amizada por elas, transcrevendo o soneto "A Cigarra morta".
     
7. A Cigarra morta  -  Ontem, Cigarra, quando veio a aurora,/ acordei a vibrar com a tua vinda. / A tua voz tinha, de espaço fora,/ notas tão claras que eu a escuto ainda. == Glorificando a luz consoladora, / cantaste, e enfim tua cantiga é finda. /Tenho nas minhas mãos, inerte agora, / teu corpo cor de mel, Cigarra linda. == Foste feliz, porque te deram esta/ garganta de ouro. Asssim, de palma em palma/ passou, num sonho, a tua vida honesta...  == Vendo-te, os meus sentidos se levantam,/ esperando a cantiga de tua alma, / que as almas das Cigarras também cantam...
     
8. Confirma-se que Olégario, em 1911, casou com dona Maria Clara Saboia de Albuquerque.      Teve uma filha. Não diz a história se com sua esposa. Essa menina morreu, aos onze meses, num desastre ferroviário. Não encontrei maiores detalhes sobre este doloroso acontecimento.  Prometo investigar.
     
9. Olegário Mariano, primo do poeta Manuel Bandeira, nasceu no Recife, no dia 24 de março de 1889, e morreu, no Rio de Janeiro, em 28 de novembro de 1958.
     Aqui pra nós: todo poeta é um apaixonado.      Todos têm suas musas, ostensivas ou secretas. Nunca deverão ser punidos por tê-las.  Inspirados nelas, poetas autênticos presenteiam-nos com maravilhosos poemas de amor.  Elas e eles (vates e musas) nos ensinam e nos ajudam a amar cada vez melhor...
       
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 22/07/2021
Reeditado em 22/07/2021
Código do texto: T7305146
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