Ontem meu tempo foi dividido entre uma parte do aeroporto e outra...entre um café e um capuccino, mas cheguei ao país do Papai-Noel.

        Nevando, porém não muito, mas a temperatura baixando mais que o dólar no Brasil. Foi díficil levantar pela manhã e ver que ainda era noite. Este é um problema aqui na Finlândia, nesta época do ano: quase o tempo todo é noite, ou quase isso. Trata-se de uma penumbra fria e constante, sem grandes variações.

       A Finlândia é conhecida pela péssima culinária. Eles só comem batata, salmão ou outras variações de peixes da região e pão. Pão de todas as cores, formas, consistências e sabores. Se não fosse o pão a maioria dos turistas morreriam de fome, pois haja criatividade na cozinha, com tão poucos ingredientes.

        Na hora do almoço, (para mim  a pior hora quando estou aqui), eu estava completamente sem fome, talvez por uma reação ao que viria pela frente. Chego à fila do refeitório da empresa e lá estão todas as variedades culinárias do país das renas. Auvo Asikainen me traduz o que havia no cardápio para este dia. Sopa de letras sempre, afinal é isso o que o idioma finlândes mais parece, uma verdadeira sopa de letras.  Ele me explicou que a empresa que cuida do refeitório decidiu fazer um festival de comidas típicas de cada decáda, começando por 1910. Hoje era a dos anos 20. Pena que não vou ficar mais dias para chegarmos a década do hamburguer e batata frita.  Dentro do que havia para o dia,  preferi uma sopa de batata com carne de alce...pois é comi meu primeiro chifrudo ainda no almoço. A sopa não estava nada má, porém com um sabor que preferi não perguntar a origem. Ainda bem que havia uma salada de alface que me pareceu divina naquele momento.

       A tarde transcorreu bem, e voltei ao hotel preparando-me para o que viria mais tarde. Um banquete russo, sem salada russa por certo, nem strogonoff. Chegamos ao restaurante por volta das 18:30....isso mesmo os finlandeses jantam em restaurantes antes das  sete da noite......se bem que já era noite há horas. O nome do restaurante não tinha nada de russo: Bellevue. Porque não sei, mas ele tem mais de cem anos no mesmo local.

       Auvo me ajuda a escolher os pratos. A cozinha russa é o oposto da finlandesa. Eles inventaram cada coisa que só mesmo um russo para tal façanha. Vamos ao cardápio.

      Da carne de Urso declinei logo de cara. Além de caríssima é ruim feito um cão.  De entrada uma tal de Kasuska ou algo parecido. Trata-se de um sortido de coisas estranhas entre elas, pepino como um molho salgado e mel. Cogumelos de todos os tipos e cores. Uma talagada de vodka que me deixou mal até agora, afinal o máximo que eu bebo é uma cuba libre com muito gelo. Ovas de um peixe que não me atrevo a escrever o nome, pois parece mais uma senha complexa de tantas letras. Língua de Alce (outra vez o alce) defumada e bem seca, fígado de rena e mais cogumelos, e haja cogumelos. Para cada coisa há um molho diferente com um sabor mais estranho que outro. O prato principal foi o ápice: Sopa com pedaços de rena, batata e um molho marrom que não sei o que era...alguma raiz, quem sabe.

        A garçonete (mais ou menos uns 55 anos) não tinha cara de finlandesa e perguntei se ela era russa. A resposta veio rápida: eu nasci em Karelia, uma região entre a Finlandia e a Russia. A mulher se transformou quando perguntei aquilo, tal como se eu a houvesse ofendido. Não entendi, mas tive vontade de manadar-la para a casa do Karélia, de onde ela veio. Inclusive expliquei ao Auvo que o masculino dessa tal região é para onde muitas vezes queremos mandar as pessoas que nos amolam....ele riu prá Karélio!!!!

        Finalmente o jantar chega ao final e para terminar acabei experimentando um delicioso......... beijo de armenia........calma,  isso é só um café com mais ou menos meio litro de volume cafeínoso com outro meio litro de cognac.....uma bomba alcóolica!!!!! Nada de chifre neste café, pelo menos da minha parte!!!!

        Gostoso mesmo é uma picanha bem preparada, uma feijoada completa, um pastel da feira do Ipiranga ou mesmo uma pizza da São Pedro.  Fiquei lembrando de um almoço,  há poucas semanas no OUTBACK, tudo estava perfeitamente saboroso. com um tempero que jamais havia provado: levemente doce e ao mesmo tempo algo amargo, que pegava na garganta. Tenho que voltar lá uma hora dessas e descobrir o porquê desse sabor tão peculiar.

Hoje comi  rena e alce, amanhã quem sabe.....só espero que as próximas refeições não tenham tantos chifres como as de hoje.