SAIR DA IGREJA
Demétrio Sena - Magé
Arlete cantava hinos em sua igreja. Mas queria cantar "no mundo"... cantar Chico, Marisa Monte, Jovelina, Gil (...). Ela não podia. Era pecado não se dedicar apenas a louvar a Deus... a Deus e a determinado semideus que surgiu nos últimos anos para mandar nas doutrinas das igrejas, enquanto brinca de roleta russa presidencial.
Marcos não queria saber de meninas, a não ser para belas e confidentes amizades. Gostava de um rapaz da mesma igreja, que também gostava dele, mas era pecado não "crescer e multiplicar"... mesmo que fosse para depois abandonar os filhos, posteriormente adotados com todo o amor e devoção, por casais do mesmo gênero.
Gustavo jamais conseguiu achar que as religiões de matriz africana são "do diabo", como todos gritavam em sua igreja. Sempre conheceu religiosos desse meio e teve grande admiração por todos eles, mas era um grave pecado admirá-los. Diziam que ele também poderia ir para o inferno, como "todos eles irão", por causa disso.
Arlete, Marcos, Gustavo, Marias, Pedros, Marinas e Josés não suportaram: saíram de suas igrejas e hoje cantam o que desejam, namoram e casam (ou não) com quem escolhem; convivem com as diversidades humanas. Eles agora são felizes, livres, donos de seus próprios destinos. Descobriram que ser feliz é sinônimo de sair da igreja.