O barbeiro louco

Ele era barbeiro e louco. A loucura era constituída pelo sentimento profundo de grandeza. Uma soberba que o levava a correspondências com o Papa, convites para composição de Ministérios, além de sonhos com altas personalidades. Amava sempre as mulheres mais lindas da comarca e casava com elas a toda hora. Ficava na frente do banco esperando certa nomeação para um cargo elevado de gerência que há bastante aguardava.

Barbeiro alegre e bom que a altivez naquela simplicidade não tocava a avareza. Dono de uma sanfona que abria e fechava entre um cliente e outro, o quanto entravam do campo para o cabelo e a barba. Muito bem reputado, exceto pelo detalhe: perto da loucura há sempre a desvantagem do escárnio. Um riso às vezes desumano que pode servir a alegre manifestação dos espíritos endiabrados.

O Máximo amigo do Aristides, sabia que o barbeiro largava tudo para verificar a nomeação esperada para gerente geral do banco. O Máximo então esperou o Dalmar sentar para a barba, uma barba de meses, e quando estava pela metade, passou assobiando na frente da barbearia olhando para dentro e vendo o velho barbeiro lhe disse:

- Felisberto, homem de Deus, saiu a nomeação, vá lá conversar com o gerente!

Naquela época o gerente era o Plácido que recebia boquiaberto o retorno do caso. Prontamente o barbeiro largava pente e navalha dizendo ao cliente:

- Volta mais tarde que tenho compromisso muito importante. Fui nomeado!

O cliente era obrigado a levantar e sair porque fechava tudo. O Dalmar, com meia barba cortada, permanecia na frente da barbearia. Esperava com o ar de sapo no brejo e com hora apertada para reunião solene na prefeitura. Como se o encontro de uma mentira com uma loucura desfechasse outra ainda mais exótica o homem com meia barba esperava o barbeiro na frente do salão. O segundo plano era fotografar o caso. O desfecho se dava diante do estupefato gerente que entre decisões e atribuições sobre créditos e débitos ficava desconcertado.

O autor da pasquinada como o criminoso volta ao lugar do crime, dava meia volta na quadra para espiar o efeito. Encontrava o barbeiro de braços cruzados na frente do banco, sisudo. O gerente carregava papéis cênicos da nomeação para lhe acalmar dizendo:

- ... Não havia chegado a tal nomeação porque a tramitação era longa e era preciso aguardar mais alguns meses. Mas que chegaria! O dono da invenção parecia ter poderes mágicos porque facilmente o convencia a voltar para velha atividade, para não prejudicar por inteiro o amigo com a barba pela metade.

Na barbearia o cliente ainda tinha que esperar que fumasse um cigarro na ponta de uma taquara fina e comprida, porque assim a fumaça não lhe atacava o peito e a saúde por inteiro.

E disso ninguém duvidava.