​O Papa e os pets 

 

          1. Vejam os senhores. Em pesquisa recente, amplamente divulgada, o IBGE apontou "que quase metade dos domicílios do país tem ao menos um cachorro e 20%, no mínimo um gato". Essa realidade levou-me a dizer, com algum exagero, que o Brasil, aos pouco, vai se tornando o país dos pets. Na minha rua, por exemplo, a impressão que tenho é a de que em cada apartamento mora um.

          2. Quero deixar bem claro que não sou contra a "adoção" de um cachorro por uma família. Amigos meus têm cachorrinhos de balaio e com eles chegam a dividir sua intimidade. A ponto de permitir que eles invadam sua alcova e se acomodem por entre os travesseiros do casal; coisa que eu não faria nem que fosse pra ganhar o céu.

          3. Vejo com olhos complacentes a bela jovem, a Mariana, passar, todas as manhãs, pela minha porta, puxando seu cachorrinho, que nem se preocupa em deixar, na minha calçada, sua fétida lembrança. É um poodle branquinho. Às vezes, fico sem saber se é o poodle ou sua dona que me chama mais a atenção.      Mariana passa, no seu curtinho short azul, distribuindo simpatia e sensualidade. Faz gosto vê-la.

          4. Um dia, fui passarinheiro. E só eventualmente um criador de cachorros.           Por isso, minha convivência com cães foi pequena. Encantava-me, isso sim, o gorjeio dos meus sabiás e das minhas graúnas. Alegravam o meu dia, de suas auroras aos seus crepúsculos. E os canarinhos, belgas e da terra? Os pintassilgos? O curios? Todos cantando, eu tinha ao meu ouvido uma orquestra celestial. Já não posso mais criá-los; o tempo, inclemente,tirou-me esse saudável divertimento. Por favor não me condenem por ter sido passarinheiro...

          5. Este amor pelos pets, capaz de fazê-los um dos membros da família, não é costume somente do Brasil. Falando para os pais e filhos, o Papa Francisco, que chamo de o vigário do mundo, do trono petrino, disse: "Hoje vemos uma forma de egoísmo. Alguns (casais) não querem ter filhos. Às vezes têm um e param por aí, mas têm cães e gatos que ocupam esse lugar".  Um pronunciamento "Urbi et Orbi".

          6.  Francisco tem se distanciado dos demais papas pelas suas posições ousadas, porém, impecáveis.  Há pouco, em pronunciamento, para Roma e para o mundo, defendeu com coragem os homossexuais. Não hesitou em pedir aos pais que não se envergonhassem da opção sexual feita por seus filhos.  Assegurando que eles, os gays, também são filhos de Deus. Não me venham com aquela de dizer que o papa é homossexual.

          7. Com a força que lhe confere o anel de Pedro, o pescador, Francisco vai, até onde pode, fazendo mudanças consideradas importantes na Igreja de Cristo, pela qual, na Terra, ele é o principal responsável. Não é fácil, e todo mundo sabe disso, enfrentar os purpurados tradicionalistas que, de terço nas mãos, circulam pelos porões do Vaticano. É preciso ter raça para contrariá-los. E isso não tem faltado ao papa argentino.

          8. Por isso minha concordância é total com o que a "Folha de São Paulo", num dos seus editoriais de janeiro de 2022, disse de Francisco. Vejam: ..."é alentador constatar que temos hoje um papa muito mais preocupado com os grandes desafios do presente do que com os dogmas do passado".

     Que Francisco não mude de rumo, para satisfazer os "cabeças vermelhos" resistentes às reformas, que se escondem nos desvãos do Vaticano. 

     

          

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 30/01/2022
Reeditado em 31/01/2022
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