As belezas do Sertão (parte 2)

Ainda sobre quando conheci a Serrota, no Pentecoste/Ce. (Veja As belezas do Sertão parte 1).

A primeira noite foi bastante estranha, antes de 20h já estava todo mundo dormindo, ou pelo menos deitados em suas redes. Por sinal a minha merece um destaque especial, pois a bicha era tão cheirosa. Também pudera, tinha sido lavada no capricho na beira do rio com sabão de coco ou sabão Pavão.

Não posso esquecer de falar da janta! Na verdade um banquete nordestino de dá gosto.

Tinha leite mugido, cuscuz, tapioca com coco, pão caseiro, ovo de galinha caipira, queijo coalho que ainda hoje sinto o cheiro, gosto e escuto o bicho rangendo nos dentes, que parecia uma borracha mole. Tinha também arroz de leite, batata doce e pra rebater tudo isso um cafezinho feito na hora.

Com o "bucho por acolá" acabei dormindo, mas, muito cedo, começou uma disputa dos galos da vizinhança, para saber quem cantava mais alto. Tinha cocoricó de tudo que era jeito. Logo em seguida tomei um susto danado, quando um boi colocou o nariz na fresta da janela, perto de onde eu dormia, e deu uma "fungada" tão grande, que parecia um vulcão em erupção.

Como acordo cedo desde sempre, não estranhei o costume local. Na verdade, aproveitei para executar um plano que eu tinha feito logo que cheguei. Subi na pedra que ficava na frente da casa e fiquei admirando o nascer do sol. Foi incrível!!!

Depois do café, servido aos moldes da janta, fui passear pelas ruas da cidade.

Logo me deparei com uma figura, do tipo interativa, que caminhava levando um Jumento pelo cabresto. Puxei conversa e ele correspondeu na hora. O bicho mais parecia um atendente de crediário do Romcy, perguntava tudo (êita viajei, puxei pelo "tempantigo").

Qual teu nome? Tu tá onde? Mora em Fortaleza? Quem é teu pai? tua mãe? e por aí foi.

Rapidamente já existiam intimidade e confiança suficientes. Então ele falou:

_ Toma, vai dá uma volta no meu Jumento. "Puta merda" foi o jeito eu recusar, pois ainda não tinha carteira para guiar animais Rsrsrs. Daí ele saiu com o seguinte:

_ Arriégua macho, tu é muito matuto. Sabe nem andar de jumento!

(Lembro do meu pai rindo quando contei isso pra ele. Essa é uma das poucas lembranças que tenho dele).

No entanto, o melhor ainda estava por vir. Naquele dia um parente da família casou e a festa do "enlace matrimonial" era na casa dos pais de sei lá de quem, se do noivo ou da noiva. Só sei que ficava bem "nas brenhas do mato" e estavam servindo um almoço para os convidados.

Por volta das 10h encostou um caminhão mais "quengado" do que sei lá o que. Pensei comigo:"Esse num bota lá!". E tome a subir gente, era menino, véi, mocinha, cachorro e umas panelas para completar o banquete. E tome esse caminhão a rodar mato a dentro, numa buraqueira mais infeliz do mundo. Agora não pensem que eu estava achando ruim, tratei de pegar um canto agarrado na frente da carroceria. Vez por outra a gente levava umas lapadas dos matos (foi quando entendi a indumentária dos vaqueiros). Quando a gente chegou a festa já tava comendo de esmola, o chão batido já tinha gente lixando os pés num forró tocado por um trio tão ruim que era bom demais! Foi dessa aventura que comecei a entender muita coisa que fui encontrando pelo caminho. Sou grato a simplicidade e a felicidade por ela abrigada.

jrogeriobr
Enviado por jrogeriobr em 01/02/2022
Reeditado em 01/02/2022
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