Magia da água de pote

- Ô de casa...

- Ô de fora!

Estava muito cansado de longa viagem.

- “Entra!”, disse ela. “Estou aqui!”

Senti uma brisa leve de boas-vindas... Ela estava na cozinha quando eu cheguei no vigésimo dia.

Houve outros dias distantes. Mas, estes foram os mais longos.

- “Estou com sede”, eu disse.

Ela me sorriu com os olhos:

- “Tem água de pote. É natural. É de fonte segura. Eu mesma fui buscar.”

Ela estava sentada a mesa; cortava algumas frutas para a salada de logo mais... Me vi no fundo dos olhos dela. Águas cristalinas. Olhos. Ela.

Dentre tantos copos, escolhi o de barro. Era o copo que me dera de presente.

Segurei o pote. No copo, verti água. Olhei o fundo; vi o reflexo de meus olhos. Minha imagem estava lá! Abençoei a água e olhei os olhos dela. A sede era intensa.

Fonte de viagens são os olhos de quem ama...

Levei o copo a boca. Senti a água ligeiramente gelada. Cada gole saciava um pouco da sede que sentia. Dos lábios a língua... Golpes de suavidade que, aos poucos, seguia tirando minha sequidão.

Ela sorriu e eu viajei...

Fechei os olhos e agradeci enquanto bebia da água do pote dos olhos dela.

Minha falta transitória acabava ali. Acabava o que acabava comigo enquanto estive longe...

Magia da água de pote dos olhos de quem me tirou da sede.

Pausa.

Nossos olhos gritavam de sede!

Fui até ela. Tive a intenção de beijá-la.

À medida que eu me aproximava, ela sorria com os olhos cheios de água cristalina guardada em um pote. Ela é água de pote vertida em copo de barro: transbordante.

Passos lentos...

Parei.

Ela sorriu.

Vi seus olhos. Me refleti neles e, novamente, viajei!

Enfim, bebi e pude descansar no pote dos olhos dela, e a sequidão de minha vida, momentaneamente, se foi...

Carlos Maciel CJMaciel
Enviado por Carlos Maciel CJMaciel em 28/03/2022
Reeditado em 28/03/2022
Código do texto: T7482696
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