Meus queridos dentes: é com pesar que hoje, estou me despedindo de vocês. Foram muitos anos grudados uns nos outros. Eu acho que uns 60 anos, ou mais. Quem sabe? É por isso que venho aqui publicamente me desculpar. Pedir a vocês que me perdoem, porque se eu soubesse que um dia iria lamentar tanto a falta de vocês, se tivesse tido orientação... Teria zelado mais de vocês, como manda o protocolo: usaria pedras para quebrar o licuri e não os dentes. Para abrir garrafas, existe o abridor, ou até mesmo a quina do balcão, não havia a necessidade da apelar pra vocês; só pra querer chamar atenção. O chopp gelado, por cima do PIRÃO de mocotó, é uma martelada em vocês, a limpeza constante não toma tanto tempo, não é tão difícil, ou chata como eu sempre imaginei... Enfim, detalhes simples, atitudes simples, que a minha rebeldia, aliada à minha ignorância e falta de informação, me impediram de tomar. É por tudo isso, que hoje tomei tantas agulhadas de anestesia na gengiva (Não vou dizer o nome da clínica, porque não sei se é permitido, nem tenho autorizaçao da mesma), fora os pontos e o incômodo que é sair à rua com a boca murcha e a dicção ininteligível. Mas agora não tem mais retorno, não há nenhuma CORTE para apelação... Agora, é tentar adequar a minha boca ITIUBENSE aos novos inquilinos. 

 

S. Paulo, 01/06/2022

www.cordeiropoeta.com.br