Trabalho amador

O colaborador é o mestre do trabalho amador. No mundo do dinheiro o voluntário é a figura que representa o amadorismo ilustrado das facilidades. Há espaço para ambos e ainda mais para amadores no campo profissional, bem mais do que entendidos no assunto. Tente fazer uma revista. Nada mais apaixonante para o amador do que ser publicado numa revista. A vaidade corre em alta e é como se alimentam as opiniões. Por outro lado se você pagar cada colaborador não garantirá o dinheiro necessário para alcançar a periodicidade. É um beco sem saída. Da revista para a web nada mudou, pelo contrário, o amador ganhou o reino da gratuidade. Sobre ele são vendidos livros, revistas, pousadas, hotéis, redes de televisão e espetáculos cinematográficos, etc. Ele fica bonitinho publicado na condição ridícula de bobo útil por escolha própria é claro. Eu gostaria de viver num Brasil onde o salário e o emprego facultasse o direito de pagar pelos serviços sem necessidade do assistencialismo e paternalismo do Estado. Um lugar onde ninguém carecesse do atendimento precário oferecido nas horas mais necessitadas. E que esses serviços não fossem onerosos sobre a condição vital da renda. Claro que a especulação deveria ser estancada. Assim o processo se desencadearia como evolução e maturidade financeira da população. A crise está na ausência de recursos na base inicial da (re) produção. O estado quer filhos, mas se o progenitor (em tempo de igualdade entre o homem e a mulher) abandonar a pensão... vai parar na cadeia. Para o calabouço moderno das trevas medievais. Crescei-vos e multiplicai-vos e alimentai-vos mutuamente do contrário... caminhe para o presídio central que é um inferno na terra. A regra moral é simplesmente essa. Do interior para os grandes centros a lição é a mesma. Não raro encontramos amigos desempregados em desespero com poucos dias para levar dinheiro aos filhos abrolhados com a ex-mulher a caminho do presídio central. São colaboradores amadores do estado. O mesmo estado do Barão de Itararé: estado a que chegamos.

Dinheiro é um mito adorado para a grande maioria que o deseja. Desprezado como inexistente da importância para a minoria que possui a título de modéstia. É estranho adorar no próximo aquilo que é vital e não possuímos como admirar um só ganhador de milhões enquanto os demais passam a mingua esperando o dia de São Nunca chegar. Um em dez milhões hipnotiza o desejo de todos. Aceitar do estado o apelo da sorte é uma forma de alienação do valor real do trabalho. Os especialistas em dinheiro dizem que é muito fácil ter aquela grana gorda, bastando economizar, aplicar, render, vender e todas as fórmulas mostradas em letras diminutas com imagens sensacionais. As religiões surgem para dissimular as diferenças e mostrar que a felicidade se encontra noutro caminho. Uma fuga misteriosa do mérito da questão. Mostram a face do milionário infeliz e coitado. O rico sem os beijos verdadeiros. Há os que acreditam que todos com dinheiro resultariam numa sociedade de malandros. Ociosos e sensuais demais para o trabalho pesado. Viveríamos num hedonismo infernal por isso somente os que lutaram pelo capital tem o direito ao hedonismo infernal nas horas de descanso. Em meio à contradição surge o incauto convite ao trabalho amador. Sem vínculo empregatício. Nascem grandes campanhas de ajuda aos necessitados. É o modo como os mais favorecidos encontram para pedir dinheiro aos que não tem. Num país arquimilionário como o nosso cada qual deveria ganhar um Salário Estado como se fosse um funcionário cidadão de alto escalão do governo. Cada criatura espiritual deveria embolsar um salário do representante de Deus aqui na terra ao contrário de pagar para provar a sua devoção. Derrotados na origem e sem igualdade de oportunidade resta-nos a participação amadora no processo de vitrine do sistema. Nosso mito de Tântalo, mais expressivo, embora o Édipo garanta mais popularidade pela maneira delicada como dedicam uma parcela mínima de existência enquanto os grandes caça-níqueis proíbem os cassinos de festim. A fórmula, no entanto é a mesma.

A drogadicção voluntária é proibida no âmago das liberdades individuais enquanto a grande alienação é incentivada a título de interação ao giro de capital. Bebamos a ela. Até como metáfora precisamos de médicos e farmácias, mas como povo... Bem, enquanto povo é assim: o que a ciência não quer lidar entrega a milícia. Na luta travada emprega-se a especialização sobre o vício infinito da arte bélica sobre o que é mais procurado enquanto proibido. É interessante notar como o vício contraria a lei mais famosa do capital que é a lei da oferta e da procura. A repressão quando procura escassear queimando os produtos, mais valor acresce valor ao mercado ilícito, mais caro fica o produto, mas é como se assim não fosse. De modo que a educação parece nada tem a ver com isso, nem a pobreza tratada a tiros. Bilhões de viciados procuram um direito no próprio direito e quando novos prazeres se renovarem sobre o adquirido surgirá outra nova luta contra os novos costumes e uma nova repressão como alarde. Sucessivamente. Impera o ciúme do lucro na bola da vez que o estado não especula.

Vejam o caso da poligamia na América do Norte: um homem pode pegar cinco anos de cadeia apenas por viver feliz com três mulheres na mesma casa e mais vinte e dois filhos com elas. Onde está o respeito às liberdades individuais? No campo patrimonial? Se suportar uma mulher é ás vezes é difícil. (Risos)

Fumo ou carro? Qual dos dois polui até a destruição das calotas polares? Ambos levam ao grande barato das estradas infestadas de novos carros. É um grande status saber que estamos levando parte do planeta ao cataclismo pelo cano de descarga dentro da grande aldeia monetária. Associados apenas ao desejo de posse de cada dia quando a grande oportunidade da sorte chegar. Depois o fumante passivo reclama do cigarro aceso na boca dos distraídos como sendo ele, apontam para o fumante, exatamente o resultado do enfisema. Nuvens negras de poluição lá fora nada significam. O politicamente correto é o amador bem depurado, mas um ardente irrefletido da publicidade global. No fundo todo amador procura um vício que é uma espécie de especialização secreta no mundo da imensa curiosidade. Precisa ser descriminalizado, perdoado, compreendido antes de ser massacrado pelo seu engano. Do contrário apenas tudo não passará da política fratricida de um ciclo infinito em busca do sucesso da parcela intolerante sobre a elitização dos azares. Decerto nossos avôs beberam bem mais durante a lei seca. E com isso não me associo a nada. Exceto a liberdade como um direito inalienável pelo menos da expressão. A verdadeira liberdade de expressão da América, aviso aos navegantes.