ESCRITORZINHO

Nelson Rodrigues disse que “Brasileiro tem complexo de vira-latas.” E ainda dizem! Não sei se só aqui, ou lá fora. E dia desses pensando, analisando como nós nos tratamos, como tratamos as pessoas, mais e mais dou razão ao nosso cronista. Porque tudo nosso, ou quase tudo, é no diminutivo, só não as palavras que não combinam. Nós não sentimos dor, sentimos DORZINHA, não tomamos chá pra para melhorar essa dorzinha, tomamos CHAZINHO e depois do chazinho, não ficamos melhor dessa dorzinha, ficamos MELHORZINHHO! Das palavras que não combinam com diminutivos, estão: restaurante, pizzaria, açougue... porém das que combinam, bar é o mais citado. O sujeito fala pra esposa, demorei AMORZINHO, porque quando vinha do açougue encontrei aquele TIOZINHO, que me ofereceu uma PINGUINHA tomamos, papo vai, papo vem, tomamos mais umas, mas aí ele puxou aquela CONVERSINHA... caí fora. Falando nisso, aqui onde moro, tem um BARZINHO, digo, um bar, onde quando sobra um TEMPINHO, vou tomar umas, ler meus livros, editar meus textos, passar o tempo. Mas prefiro ficar só, beber só, pra não afugentar o raciocínio. Mas, volta e meia passa um conhecido (conhecido de vista, não sou de me aproximar muito das pessoas), acena... e no último final de semana quem passou foi meu VIZINHO (lá vem os diminutivos. Por que será que tratamos eles assim, será para nos sentimos superiores?) e diz: "ê vidão! Isso sim, é vida boa. Lendo um LIVRINHO, tomando uma CERVEJINHA, enquanto eu, estou indo ralar, sem saber que horas volto pra casa." Eu nem ia responder, mas o sangue subiu, fui atrás dele, chamei pelo nome e lhe disse: Epaminondas, aquilo não é cervejinha, é chopp e eu não estou lendo LIVRINHO, estou lendo Nelson Rodrigues! Pronto, falei!

S. Paulo, 14/10/2022

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