QUANDO MACHISMO E PRECONCEITO SE UNEM

É uma situação bizarra, para não dizer outros vocábulos que a indignação traz à língua, quando um homem abusa de uma criança ou adolescente e conta com a defesa da própria esposa, que transforma a vítima em algoz. "Ele é homem, sua natureza reagiu! Essa menina é muito assanhada! Vive provocando com esse shortinho, deixando as coxas de fora!". O criminoso vira um santo de barro que se quebrou nas pedras da sedução, traído pela queda imprevisível do andor.

Pelas graças de um machismo generalizado que faz escalas nas mais diferentes contextualizações, afetando até os conceitos da magistratura, os casos de abuso e violência sexuais quase sempore acabam bem para os monstros, quando além do machismo o preconceito entra na questão. Das mais grotescas às mais refinadas versões, a conclusão nunca é severa o suficiente. Se às vezes há punição, ela é sempre leve, com atenuantes para o estado psíquico, emocional e até etílico do indivíduo, passando pelos efeitos da pobreza e da desinformação. Seja qual for o argumento, o machismo está lá, velado ou não, garantindo algum grau de impunidade, quando não o faz totalmente.

Mundo bizarro, este no qual vivemos. Êta sociedade cacete, que entra século-sai século, não evolui no quesito respeito ao próximo, em sua individualidade! Ainda vivemos num tempo em que até a fauna tem que se cuidar, se não quiser sofrer com os impulsos animalescos do homem. Quase é necessário que as éguas se comportem, as vacas se vistam com recato, as cadelas não fiquem por aí andando à toa, para não serem derrespeitadas. Aliás, isso vale também para seus machos. Todo o cuidado é pouco.

Imaginem vocês que uma professora narrou, numa conversa sobre abusos, que quando criança, viu um homem, bastante conhecido e respeitado em sua comunidade, casado e religioso, violando um cachorro na lage de casa enquanto a esposa engomava roupas na varanda, no primeiro piso.

Ficamos indignados, e mais ainda com a conclusão, após outros depoimentos, que essas e outras bizarrices, como a violação de cadáveres humanos são práticas bem mais comuns do que pensamos. E se depender do mesmo conceito da mulher que defende o marido porque acha que ele "não resistiu à tentação" e violentou a menina, diríamos do cachorro: "Bem feito! Quem mandou dar confiança e viver balançando o rabo para o homem?".

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 05/12/2007
Reeditado em 05/12/2007
Código do texto: T766031
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