Novas luzes

Procuro um pouco de silêncio. Afigura-se a alguns certa evolução barulhenta, deixando a quietude reservada para os acamados e velhos. Nunca compreendi a felicidade barulhenta. Sempre evitei as multidões, os urros de brinquedos, os desesperados desvios, feitos para ganhar atenção a todo custo. Talvez por isso, menino, meu pai tenha gravado na alma o apelido célebre de velhinho. Que maravilhoso presente agora!

Gosto da urbanidade quando ela representa a evolução mesclada com civilidade. Os homens usam palavras para esconder os números e números para omitir verdades. Ambos nunca se encontram plenamente. Na doença quanto mais grave é mais cara a medicação. Quanto mais erro, mais lucro! Depois do carnaval e do supermercado a farmácia tornou-se o lugar mais colorido do mundo. A carestia maquiada com beleza. Na frente da farmácia há um homem com uma receita na mão e uma mulher enferma em casa. O preço do remédio sai mais caro do que dois meses de trabalho.

Andei afastado. Ninguém deu sinal de minha ausência. Já começamos a ter nostalgias dos amigos da cidade. Digo ao espelho da minha alma. O tom, missal. Os livros estão sobre a mesa, aguardando sinal do meu ideal crítico.

... Mas esse crescimento mal concebido! Ah! Percorro ruas de antigamente quase sem ver o céu! Tento ser o censor da minha saudade, imparcial, estoico no tempo certo; e errado. Em torno dos meus passos lentos tudo gira, caminhões tremem pelo chão, motos desejam fazer crer que o motor aparenta vitalidade. Carros, carros, carros. Objetos, objetos, objetos. Eles são chamados ao foco das notícias antes da dor real e viva.

Queria ser delicado por excelência entre o desenrolar de interesses transitórios. Sou rude e ponho a luz no romance histórico e ilusões deslavadas. Escrevo, escrevo, escrevo. Os dissabores são raios seguidos de trovoadas. Agora retornei. Será necessário dizer que mudei?