OVOS MEXIDOS

OVOS MEXIDOS

Eu tinha entre 09 e 10 anos. E um dia, numa época de vacas magras, quando não se tinha mistura nas refeições, estava vindo da SERRA DOS MACACOS, faminto e não queria comer só feijão com farinha. Lembrei que D. Maria do Jovino, de vez em quando me dava um ovo, para a mistura do almoço. E descaradamente, pedi a ela um ovo, mas justamente nesse dia, o comprador já havia passado por lá e levado tudo. Desolado fui embora. Ao chegar em casa, nem a D. Maria Isabel, a vovó, nem o mestre RAIMUNDO SOUZA o vovô estavam, mas para minha sorte (ou não), a cesta de ovos da vovó, estava cheia. A gula, ou a fome, me induziram a pegar dois ovos, cozinhar e comer com sal e meu feijão com farinha. Vencida a fome, bateu o sono e fui tirar uma soneca debaixo do meu pé de umbuzeiro. Quando voltei o vovô e a vovó me aguardavam no varandado. Vovó, foi quem tomou a iniciativa: Cordeiro, você mexeu nos ovos? Antes que eu respondesse ela mesma respondeu. Mexeu sim, nem precisa responder! Seu Zezé (o comprador de ovos), contou umas três vezes e faltava dois ovos na cesta. Na sexta, terei que pagar. Mas esse não é o problema, pior foi a vergonha que passei meu filho. Você foi muito irresponsável mexendo no que não era seu. Assei um pedaço de leitoa para o almoço do seu avô e ele mandou guardar um pedaço para você, mas agora ele falou que não era pra dar mais, que você não merecia (era assim, a vovó podia até comer sem mistura, mas o vovô não. Ela sempre arranjava alguma coisa para ele misturar ao feijão e farinha. Ela zelava muito ele). Vovô sempre mediava as brigas da vovó comigo, pedindo uma trégua, ou dizendo que eu tinha errado. Dessa vez não disse nada. E foi o seu silêncio que mexeu comigo. De modo que nunca mais mexi nos ovos de ninguém. Nem nos ovos, nem em nada!

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