MEU POSTAL - I PARTE

MEU POSTAL - I PARTE

Para os Brasileiros, Portugal representa um destino turístico no concreto ou no imaginário, que resulta de desejos recônditos, alimentados por laços de ascendência ou tão só pelo que Portugal foi no seu passado como país fornecedor de uma língua que nos aproxima e de que sentimos o prazer da comunicação.

Ao contrário do que já foi lido aqui no RL, Portugal não é um país tão mau nem tão-pouco trata mal quem nos procura para viver ou simplesmente para gozar férias. Aliás, qualquer Brasileiro que nos visitou, com um destes fins, guardará para sempre boa memória de ter passado por aqui, salvaguardadas as excepções normais de quem se não adapta, por razões específicas. Pena que os dois governos, de um lado e outro da fronteira, não façam mais para que o intercâmbio se verifique como seria desejável. Ah, por mim aqui e agora quero-lhes estimular e incentivar uma visita a este pequeno país delimitado a norte e a leste pela Espanha (bonito país) e a sul e oeste pelo Atlântico. Para que tenham uma ideia geral da dimensão geográfica, dir-lhes-ei que é 1/100 do Brasil territorial e 1/20 do Brasil populacional. Isto é, sensivelmente o dobro da área do Estado do Rio de Janeiro.

Pois é, nesta pequena área com comprimento máximo de 700 km e largura máxima 300 km que se instala um país cheio de belezas. Desde o norte ao sul, encontraremos um diversíssimo mosaico de gentes, clima, orografia, gastronomia, culturas, sotaques, hábitos, belezas naturais. Direi que a cada 50 km percorridos, parece estarmos a entrar num outro país, tal a mudança que nos envolve. O noroeste, verdejante todo o ano, com clima mais húmido e com altitude, rico em gastronomia específica da zona, com uma população psicologicamente muito alegre e bem-humorada, com folclore a reflectir esse estado de espírito e com uma região produtora de vinhos específicos, denominados vinhos verdes, assim designados pelo travo no paladar e baixo teor alcoólico. Aqui reside a população mais marcadamente religiosa e que as suas bonitas aldeias penduradas pelas encostas acima, fazem lembrar bonitos presépios vivos, onde o culto se vive com ainda algum fervor, testemunhado por inúmeros calvários, igrejas, mosteiros. Designa-se Minho esta região, de montanha e praias, sendo que estas apenas se podem gozar em pleno nos meses de Julho e Agosto, devido ao arrefecimento das águas nos outros meses. Nesta região poderemos encontrar as Cidades de Viana do Castelo, Braga, Guimarães e Barcelos.

Ao lado e a nordeste fica a região de Trás-os-Montes, com clima frio no Inverno e quente no verão. Parte da sua área divide-se por montanha e planalto. Tem gastronomia importante que assenta predominantemente nas carnes de porco ou vitela. O peixe não faz parte dos hábitos alimentares, por se encontrar afastado do mar. Nesta região comem-se as melhores carnes e feijoadas. O seu povo é distinto na sua personalidade, ora desconfiado inicialmente para se tornar logo a seguir franco. Nesta região praticava-se comunitarismo e as relações pessoais assentavam em confiança, de tal modo que aqui quando as pessoas se ausentavam de casa deixavam a chave na porta. Agora com a movimentação de pessoas estranhas àquela cultura, certamente estes hábitos tenderão a desaparecer. Um povo bom e simples, farto e sóbrio, é assim o transmontano. As cidades mais importantes são: Vila Real, Bragança e Chaves.

Vindo para sul entramos na região Duriense, com parte litoral e interior, sendo nesta produzido o afamado vinho do Porto. É aqui que fica a sui generis cidade do Porto, feita de um povo laborioso, autêntico, simples, bairrista e muito especial. Vale a pena conhecer esta bonita cidade, com o rio Douro a passar-lhe aos pés e a separá-la da cidade de Gaia, aqui o centro exportador do já falado vinho, com inúmeras caves e restaurantes típicos. Poderá fazer-se passeio fluvial, até à região produtora do vinho do porto, até à cidade da Régua e depois completá-lo com viagem de comboio (trem) até à vila do Pinhão, quiçá a viajem mais bonita que se possa fazer, por se fazer junto ao leito do rio enquadrado pelas vinhas que se formam encosta acima. Esta breve descrição não permite dar uma visão da beleza ímpar que é o Pinhão. Não se dispensa uma ida às adegas e correspondente provas de vinhos e já agora compra. A gastronomia desta zona é menos significativa por não apresentar particularidades específicas, digamos que é de transição.

Continuando para sul temos a Beira Litoral, com predominância sob influência marítima e que a gastronomia muito bem reflecte, através dos muitos pratos de peixe, diga-se bom peixe. Esta zona é muito baixa, plana. O prato de carne desta região e sem dúvida seu postal de visita, é o leitão assado acompanhado com vinhos Bairrada ou espumante. A cidade de Aveiro, conhecida pela Veneza portuguesa, é atravessada por uma ria. A doçaria é importante nesta região, especialmente os ovos-moles e os pastéis de Tentúgal. A bonita cidade de Coimbra, chamada de cidade dos doutores pela antiguidade da sua Universidade, que remonta aos finais do século XIII, mandada fundar pelo Rei D. Diniz. Outras cidades a visitar, Figueira da Foz e Leiria. Nesta última fica próximo o Santuário de Fátima.

Ao lado e para o interior, encontramos a Beira Alta ou Interior. Esta é a região de mais altitude e onde se localiza a Serra da Estrela, com 2000 metros de altitude. Esta região é particularmente interessante e rica na sua gastronomia. As carnes de cabrito ou anho são das melhores.

Aqui se produzem os queijos mais famosos de Portugal, feitos à base de leite de ovelha. Os vinhos desta região, conhecidos como vinhos do Dão, são de boa qualidade. Tem muito encanto viajar nesta região, por muitas das vezes o podermos fazer acima das nuvens.

Este é um relato sucinto, breve e corrido de algumas das nossas bonitas regiões, pejadas de diversidade e que estou certo nenhum Brasileiro desdenharia conhecer. Talvez se pudessem realizar sonhos que vivem no imaginário de muitos e quem sabe ter uma oportunidade para conhecer as raízes e parentes.

Voltarei para completar a viagem ao resto que falta abordar num postal de Portugal muito aligeirado, mas ainda assim ilustrador.