CHEIRO DE ADEUS

Os adeuses têm cheiro, e quase lhes sinto o gosto, quando estão próximos. A natureza me proveu desse recurso, depois de muitos carpidos. Foram muitas as surpresas e quedas das quais levantei a custo, mal crendo que recomeçava uma jornada que nunca entendi. Ainda não sei a que vim, mas tenho aprendidopor causa desses baques, que existe um propósito para prosseguir, e as questões afetivas não podem ser empecilhos. Amar e ser ou não amado são acidentes de percurso, e contam pouco no todo, já sei disso, razão pela qual bato a poeira de cada laço findo e mantenho o propósito de chegar lá, seja como for. Lá onde não sei, mas lá.

Seu adeus já se faz sentir no silêncio, e não me pergunto a razão, porque não é necessário que haja uma. Sempre haverá um discurso, um argumento, caso haja uma indagação, pois quem parte precisa fazê-lo em alto estilo, caso seja flagrado em sua origem vazia. E nesse discurso ou argumento, é claro que as causas recairão sobre minhas falhas, meus defeitos e deméritos. Ninguém quer ser o vilão das histórias reais. Não tem a mesma graça, o mesmo glamur dos vilões de novelas, filmes e seriados. Na vida real, é muito importante ser o mocinho, a mocinha, o que mais sofre, aquele em quem sua atitude dói mais do que no seu alvo.

Há um novo cheiro de adeus no vento, e seu gosto me é bastante familiar. Começo a me abrir pro caos de uma nova desarrumação no íntimo. E não preparo defesa, porque me habituei, em direção oposta, a ser o culpado das partidas, tanto quando parto, quanto quando fico. No fundo, prefiro assim, porque acho melhor oferecer vitória. É minha vitória íntima deixar que as pessoas partam em paz, com suas consciências tranquilas. Isso as faz sofrer menos, e eu mesmo sofro menos quando ajudo a evitar sofrimentos. E a razão de saber de tudo isto é bastante simples: Tenho a vantagem de ser poeta, e os poetas conhecem bem o ser humano.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 29/12/2007
Reeditado em 29/12/2007
Código do texto: T796054
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