Quem foi J. P. M. Duarte? Sexo, sexo, sexo...

Durante algum tempo guardei um livro velho e dilacerado. Fiquei acostumado com ele na estante. Tratava-se de uma obra expurgada no lixo. Sem valor comercial devido ao estado. O título também não atraía: As mulheres aventureiras. O nome do autor desejava ficar guardado na obscuridade: dr. P. M. J. Duarte. Em alguns momentos tive vontade de lê-lo. A vontade passava, precisava arrumar as páginas desmembradas, descobrir se estava completo. Ficava o objeto sem alma longe dos olhos.

Não lembro exatamente quando resolvi impor minha vontade sobre ele. Aplicar a energia da intencionalidade para desvendá-lo. Descobria que havia algo dentro enquanto consciência de alguma coisa. Imerso numa pegajosa depressão, lutando contra uma doença incurável, recentemente declarada, afastado das minhas funções, precisava de estímulo, de utilidade para meu estado mental. Os demais livros estavam para mim como relance no estado bruto. Sem validade para a ocasião. O consolo estava no tempo em que tudo será devorado.

Morte e vida se entrelaçam e pendi para minimização do meu estrado de saúde. O que se chama pensar de modo menos banal. Foi quando abri a obra do Dr. J. P. M. Duarte. Não vá pensar que ela é consolo substancial para os que sofrem. Importante apenas para os que estudam a literatura brasileira e o comportamento humano.

Mergulhei no século XIX e considerei a obra como ontologia dos preconceitos herdados pela nossa sociedade até os dias atuais. Talvez encontre um antagonista para esta obra rara da bibliologia nacional. Publiquei “A mulher na obra sexual do doutor P.M.J. Duarte” disponível na WEB. Possivelmente o primeiro livro, senão um dos primeiros, sobre sexo publicado no Brasil, mas não o primeiro livro sobre sexualidade do Brasil. Para não ferir a obra de autor morto, obedeci rigorosa observância das características da edição príncipe. Trabalhei por uma equipe editorial inteira. Eis o fenômeno da autopublicação.

O conteúdo merece uma visão retrospectiva e uma resposta ainda insolúvel da razão pelo qual o Dr. J. P. M. Duarte ficou tanto tempo na obscuridade completa. Pecador nefasto? Mediocridade literária? Não sei. Apenas reproduzi a obra para aqueles interessados em perscrutar o valor. Lamento ainda não ter ser sido contraditado pelo ponto de vista do ineditismo ao qual credencio a obra.