Sexo pago com segundas intenções

No casarão, a viúva do coronel, comandava o filho único, Valdemar, como se ele fosse um exército.

A única saída era ser o terror silencioso das empregadas domésticas, buscando nelas o doce caminho; de cuja louvável afabilidade; direcionava-se a antiga conjetura da total usabilidade. Depois da escravidão restaram na serviçal caseira motivo de grandes explorações.

Padre Camilo frequentava a vida de dona Lucila em detalhes, examinando a adequabilidade divina ao particular da casa. Dava-lhe conselhos premonitórios tementes de que na estação do amor as malas fossem sozinhas aos seus destinos. Ocorre que dona Lucila estava velha, porém lúcida. Sabia que seu filho era desmiolado, “esquizotímico” no dizer erudito do Doutor Aranha. “Débil de juízo” como diria Constâncio, amigo do doutor Aranha. O filho, apesar da doença, era bonito e desembaraçado. De nada valia a presença de Padre Camilo, iluminado por Deus, descurioso do desejo feminino, incapaz de deslize por encantamentos femininos... Caso em que penitências ou medicações eram inúteis. Síntese: débil também ama.

Valdemar ouvindo as paredes descobriu nos conselhos, e na voz embargada da última ajudante doméstica, bonita como o diabo, o adeus à dona Lucila.

A voracidade só aumentava. Mudava de curso entre novos tormentos diante da feiura esquelética das empregadas recentemente contratadas. Dona Lucila tratou de recompensá-lo com dinheiro, parafraseando Salústio: o dinheiro doma tudo.

Deu-lhe crédito com bom limite no banco. Maltratava-lhe por dentro pensar na chegada inesperada de uma nora linda, que o levasse, não, que o arrancasse dela. Isso seria fatal, terrível, como se pode imaginar uma idosa, vulnerável, e entregue a este mundo cão de Deus.

Numa certa noite triste de chuva e vento deitou-se ouvindo a lufa-lufa comum do quarto ao lado. Ele abria portas, tirava pequenos objetos do lugar, lia trechos aleatórios de livros isolados com voz murmurada. No começo não deu muita importância a brevidade dos movimentos. Em seguida postou-se entre eles e a parede um pesado silêncio. Observou em pânico sua furtiva ausência.

Desesperada chamou o Diplomata. Nome dado por ela ao taxista da casa. Aturdida.

— O Valdemarzinho sumiu!

O Diplomata acalma o ambiente. Seguirá dirigindo a busca em todos os bares, botecos, saraus, festas de casamento. E nada. Retorna frustrado. Faltava apenas o cabaré Delírios. Pediu licença retornando com o Valdemarzinho em grau 10 de felicidade. Suado de tanto dançar a jardineira, perfumado de tanto amar.

Faltando um dia para terminar o mês de novembro bate uma prostituta na porta, idade madura, mas com cara de novidade.

— Dona Lucila tenho uma notícia muito importante para lhe dar. Estou grávida do Valdemar. Dona Lucila havia passado por muitas empregadas, respondeu categórica:

— Meu filho fez vasectomia.

Completou: “… no dia seguinte da minha viuvez”.

A moça, como se não tivesse diante de erro fatal, virou as costas, indo embora. Disse apenas com tranquilidade:

— Ah! Desculpe. Eu me enganei…

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