Minha casa

 

Morando em mim, desconheço muitos cômodos ainda. Talvez nunca chegue a conhecer todos os recantos. Há portas com cadeados enormes, outras com taramelas… Algumas janelas estão totalmente abertas, mostrando recortes do mundo bonito lá fora. Algumas têm leves cortinas de voal, que dançam calmas com a brisa. Muitas escadas, que insisto subir para melhorar a vista a cada dia. Essas são feitas de boas obras, de anonimato no servir, na caridade dos dias. Há corredores compridos também, que me causam medo. O sótão está abarrotado de coisas velhas e cheirando à mofo, e todos os dias faço planos de limpá-lo. Mas o porão será bem mais trabalhoso, porque além de tudo existe o medo dos fantasmas. Tenho medo especial de sujar os dedos das mãos de poeira, porque sempre me lembram que ao pó voltarei um dia e que minha casa será a mais pura ruína. O que me serve de consolo é pensar que a alma nunca apodrecerá, mas subirá cheirosa, como roupa lavada ao sol, pendurada no varal para secar.

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 11/04/2024
Código do texto: T8039324
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