POR BAIXO DO PANO

Ele estava apenas passeando, assim como fizera nos últimos dias, sem nenhum compromisso. Na verdade, estava de saco cheio da vida, queria dar porrada no primeiro que contribuísse para encher mais ainda o seu saco.

Ele era um escritor mal sucedido, que precisava de dinheiro. Já fazia quatro meses que o cara não recebia um salário, nada. Estava sobrevivendo de sobras – não era nem possível chamar de reservas, ou poupança.

Como ele fazia todos os dias, pensava enquanto caminhava no que ia fazer para ganhar algum. Só que Jorge – era esse o seu nome – não podia imaginar o que aconteceria dali a poucos instantes.

– Oh! Presta mais atenção! Vai quebrar t... – disse Fábio, após ver mais prejuízos. Seus funcionários eram medíocres, e ganhavam muito mal, já não se importavam com o que faziam.

Fábio então decide pôr um anúncio na frente de seu estabelecimento, não apenas para contratar um funcionário, mas também para ter alguém capaz de realizar suas obrigações, e de surpreendê-lo.

Em mais um dia, à toa, de caminhada, Jorge passa por um restaurante no qual havia a seguinte mensagem: “Precisa-se de um faz-tudo, que faça tudo certo”. Como estava praticamente matando cachorros a gritos, não viu nada de mais em aceitar um tipo de emprego no qual nunca havia trabalhado – na verdade não sabia fazer nada além de escrever, motivo pelo qual escolheu a profissão. Ele entra para conversar com o responsável, e em poucos minutos, torna-se funcionário.

Suas caminhadas, feitas sobretudo na parte da manhã, agora tinham destino, o restaurante de Fábio. E sua primeira e ao que parece, única tarefa, era cozinhar. Jorge não sabia nem ao menos como temperar macarrão, quem fazia isso na sua casa era a sua irmã, mas na situação deprimente em que se encontrava não havia possibilidade de negar qualquer tarefa. Então, após várias panelas de massas queimadas resolve usar um tempero branco que estava guardado no fundo do armário, em um saquinho plástico, e também acrescentava a suas massas queimadas condimentos, a exemplo dos vários tipos de pimenta que utilizava, sem nem ao menos ter conhecimento ao que se prestava, e por conseqüência, sua comida exalava aroma agradabilíssimo. A verdade é que em pouco tempo o lugar passou a ser o mais freqüentado da cidade, e tudo se devia a Jorge (extremamente competente!) que foi logo promovido à subgerente, e juntamente com Fábio estava ganhando um salário enorme. Quem provava da comida sempre voltava e como “a preferida” – assim que a famosa comida era chamada – só era servida à noite, mesas começavam a faltar, o que fazia com que os agora sócios, aumentassem os preços, não só de a preferida, mas de bebidas em geral e lucrassem mais e mais. Depois, ficaram sabendo que o saquinho plástico, já no fim, continha cocaína, e ninguém se preocupou em saber qual o responsável, apenas em encontrar mais quantidade da droga. Quando estavam perdendo as esperanças, um funcionário (boliviano) que queria aumento de salário disse que conseguia a droga com um de seus primos. Pronto! Meses se passaram e aqueles dois – Jorge e Fábio – passaram a ser os maiores contrabandistas de cocaína da cidade, algo perfeito porque ninguém nunca iria suspeitar das atitudes deles no ramo da gastronomia. E como o restaurante já estava saindo nas páginas das colunas sociais, pessoas influentes na sociedade cada vez mais freqüentavam o local. E Fábio se perguntava até quando iria durar os lucros e aquela confusão toda. Jorge, sem nada falar, só pensava em como continuar a corromper os fiscais sanitários e como bancar a rede fraudulenta de corrupção que montara em torno do restaurante...

– Vamos enganar gente... Quer dizer, trabalhar! – gritou Fábio, pronto para faturar com mais uma noite rentável, um dia antes de ser preso.

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