Poema de Natal...inacabado
Poema de Natal...inacabado
Lizete Abrahão
O mundo, uma vez, dormia entorpecido,
Viajando em seu leito adolescido...
Havia na brisa como que um ar de emoção
Que roçava o firmamento com a palma da mão...
E a aurora, a tiritar sob o véu da madrugada
Esfregava as pálpebras, em preguiça acordada...
A lua, de pele doce e cheiro de alecrim,
Clareava neblinas sobre os jardins
Quando uma estrela no olho da noite tremulou
E qual lágrima, no rosto do céu infinito brilhou...
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Comecei a escrever esse poema, entretanto não consegui terminá-lo. Por várias vezes tentei, mas não consegui...Era eu começar a pensar, trazer a mim certas imagens e vinham-me lágrimas aos olhos...Nublava-me a visão, e chorava...
Eu queria afinal escrever o quê? Sobre um menino que veio ao mundo para trazer paz, mas que depois morreu porque o homem não o compreendeu?
Falar do Natal? Mas de que Natal? Esse, feito de lindas mensagens, de presentes, de ceias fartas? Mas e o Natal dos que nada têm? Nem mesmo o sentimento que deveria ser o mais humano? O amor? Qual amor? Aquele pelo dinheiro, pelo poder, pela guerra? Falar do Natal resultante da sanha dos ambiciosos que se locupletam com o pão que roubam de bocas inocentes?...
De que Natal falar? O das guerras, dos ódios, dos crimes, da fome, miséria...?
Mas me dei conta que Ele nasceu e morreu...e o homem nem percebeu...Por isso, não vou fazer um poema...porque, apesar de assim pensar, tenho primeiro de analisar-me, se eu estou fazendo a minha parte, para minimizar o uivo desse mundo cão...
Texto amargo? Sim, é um texto amargo, mas aposto que muito menos amargo do que o fel que os miseráveis e as vítimas inocentes que se afogam no desespero têm de beber, todos os dias...quando não o bebem, exatamente para poder fugir para a morte...Quem sabe do outro lado, lá no infinito, possam finalmente receber direto das mãos do Menino-Homem, o que lhes caberia na Terra, se não O houvessem assassinado...tantas e tantas vezes... O mundo festeja seu nascimento, para vê-lo morrer, em seguida...em cada gesto violento, em cada palavra de desamor.