A rosquinha da vizinha!

Acostumado a não jantar, trazendo da padaria sempre um pão quentinho ao final da tarde, ele é surpreendido por uma falta de energia. Achou incrível que tenha havido em sua cidade um apagão medido a relógio por quarenta horas e meia! Quase dois dias, e não é ficção tendo acontecido de verdade em algumas cidades do Sertão da Bahia onde, em tempo de modernidade e eficiência, a Coelba teve que mandar buscar postes, cabos e parafusos em Salvador, tão despreparada esta para atender emergências.

Mas, Simplício simples com indica o nome, foi até a padaria e pediu seu rotineiro pão, quentinho, da fornada das dezoito horas, mas foi informado que não havia o produto devido à falta de energia elétrica, e o pior é ter sido avisado que ante a emergência todas as demais massas haviam sido levadas por fregueses afoitos em não faltar algo para tomar com o café, com luz acesa ou apagada. E foi para casa triste, sem nada na mão!

Sua amada, mãe dos seus filhos, imaginou algo naquela prometida noite de escuridão. Colocou as crianças para dormir mais cedo, já que às novelinhas da televisão não poderiam atrapalhar em nada sua noite! Vestiu sua mais nova e provocante camisola, ao lado da garrafa térmica colocou um bolo de milho com rapadura, coberto por paçoca de amendoim, tudo deveria dar certo!

O ambiente pronto e as crianças dormindo, ela ia e vinha pela sala, arriscou até ir á porta da rua em traje de dormir ou sonhar acordada. Que havia de mais? A rua estava escura e vazia. Já passara bastante da hora de Simplicio chegar, e ela sabia que não traria o pãozinho pela falta de energia, mas quem sabe com outros apetites. Os minutos se passavam e maior era ansiedade. Então, até que enfim, ele chega. Beijos normais e nem sequer percebeu o cenário armado. A cama de lençóis de linho e perfumados, no lugar daqueles de chita ou algodão.

“Amor, por que demorou?”, perguntou ao marido a ansiosa mulher. Ele com simplicidade única explicou: “Não tinha luz não tinha pão, eu ia passando pela calçada e a vizinha me ofereceu a rosquinha, como não tinha o pão e estava com vontade ai aceitei e comi lá mesmo na casa dela l”. A esposa como uma fera de camisola, esbravejou: “E chegou sem apetite?” Complementando: “Safado, vai comendo a rosquinha dela até o marido descobrir”. Simplício até agora imagina como Seu José, o marido da vizinha, vai reclamar por um punhado de massa feita com farinha de trigo, leite, fermento e ovos e moldada em forma de rosquinha. Fritas em óleo de soja a luz de vela!

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Seu Pedro garante que não gosta de rosquinhas.