BANQUETE NO MAR

Vi o ano novo explodir nos céus de minha cidade, de forma inédita. Dizem que a primeira vez a gente nunca esquece e é verdade. Vivi um reveillon democrático. Um reveillon cotidiano para a maioria, à beira mar, com a Baía de Guanabara despejando sua saliva branca, espumosa, ondulada nas areias do litoral do Rio de Janeiro e arredores. Aqui, a espuma do mar entrelaçou-se com o explodir das espumas das garrafas da vida.

Receosa, mas com esperanças de ver 2008 chegar, de forma diferente, tornei-me cúmplice de meu antigo-novo amor para rompermos o ano à beira mar.

Já na porta do prédio, sou surpreendida por um rio humano, caudaloso, incessante, cuja corrente levava todos a uma só direção - ao mar vestido de branco, fantasiado de Iemanjá.

Meus olhos brilham, meu corpo dourado de sol sua, o coração dispara. É imensa a emoção de ver a mescla de seres de todos os tipos, de todas as tribos, indo para o mesmo ritual, para o mesmo destino.

Com medo de ser engolida pela multidão, reforço o entrelaçar de mãos com meu companheiro e, na última contração antes do ano novo nascer, explodir em vida, me sinto leve, feliz, abraçando um mar de esperanças. Sinto-me protegida, amada, respeitada, em meio a tanta gente diferente, desconhecida, mas aninhada nos braços de quem me quer, de verdade.

Todos sorriem, uns cantam. A orla, a areia se transformam em uma única e imensa mesa, onde está sendo servido o banquete iluminado por velas e flores encantadas.

Descemos à areia e me descubro no ventre da multidão, sorrindo para meu vizinho e brindando com seres que nunca vi.

À meia noite, fogos despencam como se o céu tivesse aberto uma porta despejando sobre nós luzes de vida, de alegria, de esperança, de amor e paz.

2008 chegou, com certeza, democraticamente, lindo, apaixonante, não só para nós, mas para todos que estavam ali acreditando na vida. Na nova vida, sem traições,sem mentiras, sem covaridas, sem desrespeito, indiferenças ou egoísmos. Na nova vida dividida, compartilhada, vestida de esperança, de gostares, de atitudes e, não apenas, de belas palavras soltas ao vento.

Estavam ali entrelaçados fios de luz, fios de amor, que jamais me farão esquecer meu primeiro ano novo, no meio da multidão, sentada à mesa do imenso banquete no mar.

Escrito em 01/01/2008