Aurelino, Bolinha, Gugu e um sonho!

Ainda perto, em dezembro último, passei na praça ilumina pelo presépio e lá estava um homem de 63 anos, a mulher com 52 e cara de setenta, um filho de 09, um neto de 2,5 anos, uma cadela vira-lata que não perguntei a idade, e um sonho antigo. Aurelino havia saído de Santana, uma cidade da região do Oeste da Bahia, e caminhara de carona, a pé, e outros meios em direção a São Paulo, o sonho era ir ao programa do Gugú, lá ele sabia que sua vida poderia mudar. Na qualidade de jornalista fui procurado pelo homem que se abrigava com a família em duas pequenas barracas de camping, isto em Guanambi por onde estavam de passagem, e onde resido e edito o jornal Vanguarda.

O entrevistei, ele me apresentou a família e a cadela “Bolinha”. Falou-me de seu sonho, publiquei pequeno artigo, pois jornal do interior sofre com custo, e pelo fato também com espaço. O jornal circulou no dia seguinte com a notícia “Cadela ‘quer’ ser atração em um programa do Gugu”, mas ao procurar seu Aurelino para entregar-lhe o exemplar e algo mais a caravana já havia seguido. Como falou no dia anterior, quando os fotografei, foram para o trevo e de lá, de carona, foi até a vizinha cidade mineira de Monte Azul, nem deu tempo para que aqui no Sertão o déssemos uma ajuda para seguir. Só tive notícia deles

A obstinação de Aurelino por estar no Programa do Gugú era tanta, que nem ouvia os conselhos sobre a sua intempestiva viagem. Eu mesmo procurei desestimulá-lo, como desestimulou o apresentador à outros que pensam a este tipo de aventura arriscar. Disse eu ao homem sobre as ciladas da cidade grande. Mas ele inebriado pelo sonho de estar com sua bolinha na televisão não ouvia as advertências. Gugu que tantas pessoas trás de volta de volta terá mais uma família a trazer. Aqui, na época, pensei até em o caso ao Conselho Tutelar, para pelo menos preservar as crianças de tão sacrificada viagem.

Se eu o impedisse da longa e precipitada a viagem, talvez estivesse fazendo certo, mas daria outra direção a um sonho. Sabe-se que a vida nas grandes metrópoles, na maioria das vezes, trás uma situação pior e desfavorável aos sertanejos, principalmente os que para lá vão sem ter antes uma certeza qualquer. Uma família composta por um homem mais velho do que eu, uma mulher com duas crianças, sem recursos e nem parentes por lá, dormindo nas calçadas, que aconteceria? Deus os protegeu dos ladrões, que só o roubaram as duas barracas. Deus os protegeu dos revoltados filinhos de papai, que espaçam e até incendeiam mendigos, e eles assim estavam parecendo.

Deus os deu muito mais do que um sonho, deu-lhes a oportunidade de realiza-lo através de uma jovem paulistana que lda Paraça da Sé onde estavam domindo na caçada os viajantes, ligou para a produção do Gugu, foi atendida e contou a história servindo de anjo interlocutor. A equipe e o apresentador foram conferir. A jovem secretária recebeu uma placa de mérito vista por telespectadores de todo o Brasil no programa de ontem, 20/01/2007.

A família ficará por uma semana hospedada em um hotel de luxo por conta do programa, a cadela em um hotel para cães com tratamento de cão de raça, e no programa do dia 27 (próximo domingo) a família terá uma surpresa. Voltará para a cidade de Santana, na Bahia, e as tradicionais empresas que patrocinam o “Domingo Legal” trarão os brindes e doações rotineiras. Mas que foi um risco foi, e que a família humana da “Bolinha” entre na igreja, de acordo com sua fé, agradeça a Deus pois afinal o anjo estava na Praça da Sé.