Sábado de cinzas!

Era uma mulher extremamente caseira e de grande conhecimento, ninguém a via batendo pernas nas ruas. Era vinte e quatro horas nas casas das vizinhas e conhecia tudo da vida dos moradores do bairro, um prazer que a divertia mais que assistir na televisão o programa “casos de família”; vivia os problemas dos outros presencialmente. Quando ao acaso o marido vinha almoçar encontrava tudo pronto nas panelas, e o forno de micro-ondas de portas abertas. Sorte não ter filhos ou filhas.

Um risco que o marido corria, pois ela sabia quem traia quem, com quem, onde e que horas. O único momento sem procurar saber da vida alheia era o dia de domingo, quando ia a igreja se confessar e lá demorava quase toda a manhã. Eram tantos os pecados que havia para confessar que eram horas de joelho contando as fofocas ao vigário, que para a sorte dos citados tirava sempre um profundo cochilo.

O marido, um conformado, fazia de tudo para manter sua amada em casa. Comprou até uma televisão plasma de 39 polegadas com conversor para digital, mas os aparelhos ficaram meses na embalagem, tal a ocupação da mulher que lhe faltava tempo para algumas tarefas. Sem empregada o que havia a fazer sempre adiado; por que não? O banheiro era lavado todos os sábados em que lhe sobrava tempo do banho dos pés à cabeça. Nos outros dias, devido à pressa, o banho não contemplava os pés nem a cabeça.

Ele naquele dia de sábado mantinha-se preocupado, pois era seu aniversário e havia convidado colegas para uma feijoada. Levantou cedo para preparar os ingrediente e assim não sobrecarregar a atarefada esposa. Em sua saída avisou que o feijão, em uma grande panela, estava ao fogo e que ela prestasse a atenção quando estivesse cosido. Ela preocupara com a rotina do dia a dia esqueceu do que havia no fogo, A água secou, a fumaça invadiu a casa, houve uma confusão como se fosse um incêndio de grandes proporções.

Os bombeiros foram chamados e o feijão preto já havia virado cinzas. Um almoço de aniversário virou cinzas, nada mais que cinzas! Busca geral na vizinhança e enfim foi encontrada sentada em um sofá, ouvindo uma outra amiga bem parecida com ela: “Corre que os bombeiros estão na sua casa, parece que pegou fogo em alguma coisa”. A mulher fez pequena pausa e perguntou: “Os bombeiros já chegaram?”, e complementou: “Deixa que eles trabalhem sem palpite. Agora estou ocupada ouvindo um caso que minha amiga está contando”.