Coisas de feministas e machistas!

“Qualquer dia quando você chegar eu já estou morto!”. Essa era a frase que Zeca usava quando dona Zuca se atrasava para colocar o almoço na mesa. Todos os dias era aquele lamento pela longa espera, que segundo ela, “por um insignificante atraso”. Era de compreender que não era a culpada, embora não tivesse cartão de ponto, só de crédito, e nem emprego! Em um dia era a manicura que se alongava nas histórias de salão de beleza, muitas das quais passavam de piadas de salão. Mas lá era um ambiente só de mulheres, e podiam despir despudoradamente seus verbos, pensamentos e confissões.

Outros dias quando chegava a barriga do Zéca já estava roncando, mas dona Zuca trazia as desculpas alinhavadas; tinha ido à costureira! “Foram tantas as esticadas de fita métrica, e conferência das medidas além da verificação da profundidade do corte, que estou exausta”. Neste dia se Zéca não fosse à geladeira e aproveitasse os restos do dia anterior, só comeria se buscasse na pensão. Ele, embora um marido amistoso, longe de brigas, e que até conformado com as misteriosas saídas de dona Zuca, jamais se irritaria por alguma coisa que não fosse à demora nela lhe dar o que comer.

Porém, nascido em uma família extremamente machista e senhorial, trazia por herança a idéia de que lugar de homem não é na cozinha, para a mulher caberia esta obrigação! Esse era o nó que não lhe saia da garganta; não ter atualmente comida regular como dona Zuca lhe dava a vinte anos passados, tempo em que viviam um fresco casamento. Ele já emagrecera muito, de tanto perder horário de almoço Ela escolhendo a comida mantinha o corpo bonito desde casou. Ele cada vez comia menos, fora de hora não tinha apetite! Ela sabia que comida fora de casa tinha riscos, nem sempre é sadia, mas gostava de provar tiras-gostos diferentes a cada oportunidade. Principalmente se viessem com aspecto higiênico e envolto e alguma embalagem.

Dona Zuca parecia insaciável, todos os dias seus olhares procuravam um gostoso tira gosto, e para isto tinha que se produzir; unhas bem-feitas e os vestidos da moda, pois só em lanchonetes de luxo, onde os olhares percebem os mínimos detalhes, eram encontrados aqueles croquetes que lhe babavam a boca. Este era o motivo porque não se preocupava em dar comida a Zéca, ele já aposentado tinha todo o tempo do mundo para comer alguma coisa que lhe aparecesse em casa, sem reclamações da mulher. Não abusa de lanches extras por causa de sua diabete e aposentadoria que era pequena.

Chegou sábado de carnaval e pensão também fez feriado. Dona Zuca pelo menos comunicou para o marido que iria passar o feriadão em uma paradisíaca praia, coisa que Zéca não gostava, de praia! E assim em uma luxuosa Van e a companhia de duas amigas e três vistosos amigos foi curtir a beira do mar. Saciados de tantos movimentos dos banhos, retornaram na quarta feira. Ela lembrou do conformado marido que ficou batendo papo na Interne durante a longa espera. Imaginou que ele podia fazer com as próprias mãos. Mas a surpresa chegou quando o grupo a deixou na porta de casa. A ambulância já levava Zéca. Ele foi acometido por anorexia, pois macho como ele, mesmo aposentado, não vai para cozinha nem que morra de fome!