Milhões de palhaços na nação!

Não sei a razão por qual o resolvi chamá-lo de Ernestino, talvez pelo nome lembrar um homem honesto! Seja pelo que for lembro quando ele desfilou com um enorme nariz vermelho, na larga avenida, em um bloco nada carnavalesco que me chamou a atenção. Era uma grave greve! Estavam paralisados os serviços essenciais. O que são serviços essenciais? Aqueles que necessitamos e um determinado momento! Eu naquele momento precisava de um banheiro público, mas estavam fechados naquele dia por falta de papel higiênico e desinfetante com o agravamento dos baixos salários dos que ali trabalham. Os serventes estavam envolvidos no justo protesto por melhores condições de trabalho e direitos!

Naquele desfile, além da comissão de frente seguiam diversas alas, incluindo a enorme “Ala dos Professores”, que no carrinho alegórico de mão traziam um computador ultrapassado, uma velha lousa que de preta virou cinza, um pedaço de giz, cadernos rasgados e um ventilador quebrado. Ali estavam serventes da educação e cultura, que se não bastasse enfrentarem a falta de educação de alunos e a de cultura dos governantes, mulheres em sua maioria, enfrentavam o pejo de caloteiras por deverem o armazém, e também as butiques afinal a vaidade é de todos, não só da ex-ministra da igualdade social. É isto! Uma igualdade social entre amarelos, brancos e negros; todos merecem ter a igualdade de vestir roupa de marca das melhores butiques e, pelo exemplo dado, até usar indevidamente cartões de crédito!

O que me chamou a atenção em Ernestino foi o “grito de guerra”, parodiado de uma alegre marcinha de carnaval; “Quanto choro, quanta agonia. Mais de milhões de palhaços na Nação...” Se José Flores de Jesus, o popular compositor “Zé kétti”, ouvisse Ernestino cantando não só choraria pela colombina como também por todos e nosso personagem, que inspirado na emoção e falta de quem apelar, abriu a boca aos berros e suor na pele para ver se passava pelas janelas blindadas pelo ar condicionado. Pelo menos ao povo aquele povo o bloco passava a mensagem! Há motivo. O fingido reajuste de salário mínimo, que é o máximo. Neste ano de 2008 o mínimo será reajustado em R$ 28,00 reais, pouco mais de 7%, E respondam quanto subiu a gasolina desde maio de 2007? O que importa essa estatística? Assalariado vai de moto-táxi, de ônibus ou a pé!

Os narizes dos palhaços são vermelhos, da mesma cor! E o corso vai passando sem os carros que buzinam no engarrafamento pedindo pressa em seguir, não percebem nos manifestantes os narizes vermelhos e nem ouvem a já rouca voz de Ernestino que segue repetindo: “Quanto choro, quanta agonia...” A única oportunidade de pobre ir à frente, é quando arranja emprego de motorista de carro executivo, lembravam os que os viam passando de nariz empinado como se os patrões fossem. E lá vão eles! Eu que também ando a pé no meio da multidão não consegui o nome certo daquele homem de físico fraco e forte no grito! Fico aqui pensando em um enorme salão do tamanho de uma nação de palhaços. Ou todos estão satisfeitos?