O português é o culpado!

Era um sábado para transcorre normal, seria um dia daqueles em que o quase silêncio da rua, só quebrado por algum mal educado que pensa que buzina é campanhinha domiciliar, me faria dormir até depois do sono acabar. Raramente só na cama me traz vontade de ali ficar além da necessidade do organismo em dormir, deixei de atender aos chamados de “vem meu amor tomar café”. Pareceu-me que nunca a cama esteve tão gostosa sem que nela tivesse alguma companhia.

Tudo transcorrendo na sublime paz quando afoitamente entra a adjunta do lar, escandalosamente, vinda do quintal anunciando que havia quebrado a bacia. Pulei da cama, pronto para vestir uma roupa por cima da cueca e leva-la ao hospital, sem não antes pegar o talão de cheques! Segundo depois da adjunta entra a rainha do lar, e diz que ela não se preocupasse, pois compraria outra. Foi então que entendi que a bacia quebrada não tinha sido a de ossos internos da esbaforida mulher, mas uma bacia de louça comprada para dar banho na minha pequena neta quando ela visse nos visitar.

Reuni nos meus pensamentos uma série possibilidades a procura de culpados de tão grande confusão. “Eureca! Foi o português!” Bastou que eu apontasse o culpado para que da lavanderia vizinha aparecesse a gritar “tudo errado que acontece nesta rua sou eu, mas hoje confesso que nada tenho a ver”, disse Manoel, o lavador que a tudo ouvia. Ora bolas, se ele nada tem a ver por que veio ver? Ainda mais eu que eu nada tenho a haver com ele. Minhas roupas são lavadas em casa, e os ternos quando lavados externamente também por dentro, eu pago a vista!

Foi então que reforçou a minha tese, de que tudo é culpa do português; um idioma rico que faz acontecer uma pobreza daquelas. Onde já se viu bacia de louça, de alumínio ou de osso? Poderíamos chamar de alguidar, alquidar, ababá ou qualquer nome assim, ao ser referir aquela peça de cerâmica. Eu não teria me levantado naquela manhã! Por culpa do idioma português derramei uma bacia de pensamentos gostosos, dos prazeres que aquela cama macia já me dera nos anos de vida, de casado e de amor!