Escrevendo para fora...

Na certeza de que às centenas de amizades, das quais já desfrutava na vida, virtuais ou matérias, Carolzinha resolveu multiplica-las por mil criando uma página do “Orkut”, comunicador da Google que na linguagem dos mais idosos chega até ser chamado erroneamente de “Iogurt”, Acessos e mais acessos, principalmente quando a Internet, por um motivo qualquer trazia mensagem tipo, “página não encontrada”, ai Carolzinha tinha um verdadeiro acesso! Nestes dias calçava um par de meias de lã, escolhia as mais bonitas, e com colegas da faculdade ia passear em geladas montanhas das frias regiões do país. Queria mesmo é estar se aquecendo nos teclados. Mas, a natureza é eterna, e a tecnologia nem sempre satisfaz as necessidades.

Um dia, abrindo o Orkut encontrou um senhor, com três vezes mais a sua idade, e com o mesmo sobrenome, “Será primo do primo do primo do meu pai?”, pensou lá com seu par de meias, que usava também dentro de casa nos dias de temperatura baixa. Nenhum problema, afinal tantas as pessoas têm o mesmo sobrenome e nem parentes, amigos ou conhecidos são. Mas uma coisa lhe chamou a atenção, o tal localizado se tratava de um jornalista escritor veterano, profissão amada pela jovem, que aspira não só escreve para sua região, mas aventurar-se em comunicação mais abrangente, mandando suas escritas para outras regiões. E como ela afirmou: “Um dia ainda quero escrever para fora”.

Assim sendo fez pesquisas da Bahia, e escreveria para uma terra de clima tão diferente, onde não escalaria montanhas de gelo, mas claro que andaria no elevador Lacerda um dos transportes que mais sobe no país, e desce também! Para a Bahia não necessitaria de seu tão bonito par de meias, pois o intenso calor não o deixaria usar. Ainda mais se estivesse escrevendo sobre o Sertão, quanto contrates acharia! Carolzinha resolveu ensaiar alguma coisa sobre o Sertão do Nordeste, por exemplo, sobre Dom Luiz Flávio Cappio, bispo católico protestante contra a transfusão das águas do Rio São Francisco, ou conhecer as famílias do Paraná que migraram para a cidade de Luiz Eduardo.

Debruçou-se muito além dos ombros do namorado, e os livros no gênero do “Grande Sertão: Veredas”, grande obra de Guimarães Rosa, passaram a ser livros de cabeceira. Mesmo quando dormia em acampamentos em uma das belas regiões dos Campos Gerais, levava papel e caneta e anotava tudo; os livros lhe serviam de travesseiros. Enfim tudo pronto para ser digitado para a Internet, o redator de um jornal sertanejo já esperava a matéria que vinha de longe. Carolzinha colocou suas anotações em cima de uma mesa, foi tomar um banho quente, e na volta... “Cadê?” perguntou com ar de espanto, pois as anotações haviam sumido! Sua sobrinha, com aquele matreiro sorriso de criança levada, então disse: “A titia falou que isso era para mandar pra fora; eu ajudei e joguei pela janela”. Carolzinha ainda correu para ver, e viu as folhas sendo levadas pelo vento daquele dia!