O POETA É DO POEMA

Muitas e muitas vezes, fazer poemas é o caso típico de apontar numa direção e acertar em outra. Isso faz com que o poeta fira sempre, além de si mesmo, as pessoas que menos fazem jus em derredor. Poetas são caixas de surpresas. O cúmulo do inusitado. O acúmulo dos mais incômodos despropósitos. Todo poeta nasce para viver só, porque nem mesmo outro poeta pode compreendê-lo. Muito menos as pessoas normais, as que fazem coisas conexas e não devoram pautas como quem sacia fome de meses.

Os amores dos poetas são subjetivos, abstratos ou metafísicos, e só se explicam de fato nos poemas. Poetas são seres poliversais, deuses da sombra e das entrelinhas, e quando se unem por laços tocáveis as relações são conflituosas. Fuja do poeta. Não o ame. Ou há de amar uma lenda, uma crendice, uma aura que sugará seu tempo, sua fonte afetiva, seu entendimento emocional.

Na verdade, o poeta é só do poema. Da poesia. Do mundo imaginário de quem nem imagina que ele é o próprio imaginário. Deixe o poeta em si mesmo. Canonize-o até. Adore-o, se assim for de sua vontade, mas nunca espere um milagre desse santo que não tem andor. Perambula pelos altares desavisados de sua vadiagem.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 28/04/2008
Código do texto: T965733
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.