Pré-moderno e pré-modernista

Maria ganhou computador. Maria embolsou o novo tempo. Maria adora “ingréis” e fala “oportunês”. João é internauta, portanto é pré-moderno. Pós-moderno é todo aquele que pulou o modernismo com uma perna só. Feito Saci. O computador cresce no campo da pessoa física como diversão para alvíssaras. Alvíssaras! Viva o Gil. Viva o Ministério! Viva o teatro de tópicos. Viva tudo o que se vende abaixo de tudo o que se dá. Tudo se consome no recurso que se exaure.

Todo pós-moderno é um pré-modernista com vontade de classificação autenticada. Maria tem computador para ler novela como se fosse real. Maria desconhece a palavra escrita. Maria adora o colorido das imagens. João quer navegar para conhecer outra Maria. João conhece Pedro que acredita na palavra escrita. Tudo se descreve na velha fotografia sem álbum de livro. Antonia mora em casa de apartamento. Ele habita dentro do carro, ela mora no Orkut.

A palavra escrita no campo virtual é pré-modernismo, experimentação tecnológica do pronome “nós” em “nóis” . É movimento sem dentições de voragem visual. O olhar desatento para bilhões de informações sem causa nem sentido prático no conjunto total. Só a informação secando como orvalho no galho da arueira. A pessoa física levada para o campo da persuasão. Habitando o aspecto.

Só o pré-moderno tem consciência do presente em construção. Coitado do pré-moderno. O pré-moderno que lê! Que sabe ler! Que interpreta. Ouve e ausculta. João quer sem querer os objetos que pretende adquirir. Possesso de tanta vontade de poder possuir: Sapato, carro, dentes, sandália. Na fábrica de aptidões tudo deve ser querido. O computador é gigantesca fábrica de desejos. O supermercado universal em construção. O mundo de dentro. O mundo de fora é a ecologia desesperada.

Tudo desejado. Cobiçado. Colorido. Revestido de burguês em ouro em pó. A competitividade nunca se sacia. Manancial de sede jamais dessedentada. Na rua tem alface brasileira? Tem juros simples e compostos. Tem aumento de preço? Fome? Merco Brasil? Casa e comida? Para-rá-rá-pim-pim! Don-doron-don-dom! O pré-modernismo se veste de reflexões como um velho moderno que jamais perdeu a graça.