Manhã de praia

Como os refrigerantes frisantes sentiram-se unidas. Duas escritoras no mesmo hotel e agora integradas na terra-de-ninguém do veraneio. Presente do sol e do mar. Tudo parecia ótimo e diferente. Riram-se livres e demoradas sem despertador diante do mar imenso. Mal se conheciam e estavam amicíssimas. Vivas diante do tesouro da felicidade momentânea. Espontâneas chegaram a confidências das paixões rotas. O lance de amores vividos em segredo, cada qual em melodrama. Reprisaram dramáticas ternuras. A relembrança desfazia aquilo que antes era uma espécie de luz galante e agora se dissolvia na areia fina. Perdiam-se no grasnado das gaivotas entre guarda-sóis e pandorgas coloridas. Foram se sentindo curadas. Na beira-mar as histórias eram desfeitas nos cabelos mal dominados pelo vento. Retornava-lhes o reconforto de um perfume secreto. Suave e bom do passado reconquistado.

A primeira havia amado um músico, daí a frase marcante: Músico é aquele que procura o todo no conjunto, confessou divertida. A outra perdida pelo marinheiro do navio sem nome que nunca mais havia ancorado. Sem porto recebia cartões postais dos lugares por onde ele passava a mais de trinta anos. Lembraram também do tempo em que passearam na orla com seus primeiros namorados diante dos pais incrédulos. Feliz disse tocando suavemente em seu braço: Prefiro literatura. Gosto mesmo é de literatura. Escute: O mau humor literário pode ser do tipo intestino preguiçoso com dose de humor psicodramático. Caíram na risada. Besuntadas pelo protetor solar.

Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 14/05/2008
Reeditado em 09/09/2011
Código do texto: T989003
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